11/02/2021 - 18:33
O órgão regulador chinês de meios de comunicação proibiu nesta quinta-feira (11) o Serviço Mundial da BBC, acusando-o de violar diretrizes oficiais em uma reportagem sobre a minoria uigur, dias depois de Londres retirar a licença da rede chinesa CGTN.
A Administração Nacional de Rádio e Televisão chinesa “não permite que a BBC continue transmitindo na China e não aceita a renovação de sua permissão anual”, informou em um comunicado o regulador do regime comunista.
Na avaliação da entidade, o serviço noticioso da emissora britânica descumpriu “a exigência de que o jornalismo seja verdadeiro e justo” e “não prejudique os interesses nacionais da China”.
Essa “grave violação” das diretrizes oficiais teria ocorrido durante um programa emitido em 3 de fevereiro com testemunhos chocantes de tortura e violência sexual contra uigures em campos de detenção chineses.
A BBC expressou sua decepção contra a medida aplicada na China continental, onde o canal já é censurado e limitado a hotéis internacionais.
“A BBC é a emissora mundial mais confiável e informa em todo o mundo de forma justa, imparcial e sem medo nem favoritismos”, indicou uma porta-voz da empresa britânica.
O ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab, qualificou a proibição de “atentado inaceitável contra a liberdade de imprensa” e assegurou que “só prejudicará a reputação da China aos olhos do mundo”.
Os Estados Unidos também denunciaram a medida.
A”Condenamos totalmente a decisão”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, fazendo um apelo à China e a “outras nações com um controle autoritário sobre a população a que permitam o pleno acesso à internet e à liberdade da mídia”.
A medida ocorre em meio à tensão entre os dois países desde que Pequim impôs uma lei de segurança em Hong Kong, ex-colônia britânica, e Londres proibiu a chinesa Huawei de participar de sua rede 5G.
A queda-de-braço mais recente ocorreu após a decisão dias atrás do regulador britânico de revogar a licença da rede chinesa CGTN por infringir a legislação britânica sobre propriedade estatal.
– “Os gritos ressoavam” –
A BBC, que também exibiu um documentário no qual acusa a China de acobertar as origens da covid-19, difundiu em 3 de fevereiro um informe sobre a situação dos uigures nos campos de detenção chineses.
Com base em vários testemunhos, a BBC informou sobre as denúncias de estupros sistemáticos, abusos sexuais e torturas praticados contra mulheres detidas por parte de policiais e guardas na região ocidental de Xinjiang, na China.
A região abriga a etnia uigur, de fé majoritariamente muçulmana, e registrou nos últimos anos uma forte repressão por parte das forças chinesas em resposta a distúrbios separatistas.
A reportagem descreve torturas com choques, incluindo o estupro anal por guardas usando cassetetes elétricos. As mulheres teriam sido submetidas a estupros coletivos e esterilização forçada.
“Os gritos ressoavam em todo o prédio”, diz uma das testemunhas citada na informação.
Os grupos de defesa dos direitos humanos estimam que pelo menos um milhão de uigures e outros muçulmanos de fala turca estejam detidos em campos em Xinjiang.
A chancelaria chinesa qualificou como “falsa” a investigação da BBC, mas para o governo britânico, mostra “atos claramente maldosos”. A diplomacia americana também condenou os fatos reportados.