18/02/2021 - 9:43
Empoleirada no topo do rover americano Perseverance, a SuperCam, projetada por cientistas franceses, estudará as rochas marcianas com seu feixe de laser e um microfone, em busca de vestígios de vida passada no Planeta Vermelho.
Outras duas ferramentas europeias, a espanhola MEDA e a norueguesa RIMFAX, serão usadas para medir os parâmetros atmosféricos de Marte e explorar sua subsuperfície, respectivamente.
Do tamanho de uma caixa de sapatos e pesando cinco quilos, a SuperCam usará seus “superpoderes” do topo de uma haste, com ferramentas adicionais americanas de análise e controle, afixadas ao corpo do robô.
“É um método de vigilância geofísica, que vai indicar onde tirar determinada amostra e examinar seu ambiente”, explicou à AFP o astrofísico Sylvestre Maurice, do Instituto de Pesquisas em Astrofísica e Planetologia (IRAP), que projetou o instrumento.
Sua irmã mais velha, a ChemCam, que continua ativa no rover americano Curiosity desde 2012, provou que Marte era habitável. Agora, cabe ao Perseverance encontrar vestígios de vida.
Sua cabeça é dotada de um feixe de laser, cujo disparo sobre uma rocha, a até 7 metros de distância, vaporiza uma pequena parte em forma de plasma. A luz emitida é analisada por um espectrômetro (LIBS) que revela “os elementos de que as rochas são compostas”, como ferro, silício, ou alumínio.
– Microfone –
Mas “para descobrir possíveis sinais de vida passada, é preciso mais do que química. É preciso analisar as moléculas, fazer mineralogia”, diz o pesquisador do IRAP.
E, portanto, é preciso ser “muito mais ambicioso, acrescentando três técnicas”.
E isso será feito com um disparo de laser de luz verde, de até 12 metros, associado a uma espectrometria Raman, que observa como os átomos da matéria estão organizados, e a um espectrômetro infravermelho. Este último completará essa observação analisando, até o horizonte, a forma como a luz solar é refletida pelo objeto em estudo.
Por fim, um microfone, “uma estreia em Marte”, informará sobre a dureza da rocha, graças à análise do “clack”, o ruído que o disparo do laser faz ao atingi-la.
Operando remotamente, a SuperCam complementará os dois “instrumentos de contato” americano, PIXL e SHERLOC. Localizados na extremidade de um braço articulado, na parte inferior do robô, eles estudarão a composição química e vão procurar um traço biológico nas rochas, respectivamente.
Os disparos de laser da SuperCam ajudarão a selecionar os melhores alvos e a “limpar” a superfície antes do estudo por parte do PIXL e do SHERLOC.
“A ideia é que um instrumento deve responder a várias questões e que uma pergunta deve encontrar sua resposta com vários instrumentos”, acrescentou Sylvestre Maurice, cujo instituto, o IRAP, vai compartilhar, a partir de um centro operacional no Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) a pilotagem da SuperCam com o Laboratório Nacional de Los Alamos (LANL), nos Estados Unidos.
“Se sinais de vida forem percebidos com uma ferramenta, eles deverão ser confirmados com as outras”, indicou.
O juiz final será o retorno à Terra, em alguns anos, com as amostras coletadas pelo Perseverance.
Até lá, “todos se ajudam”, acrescentou o cientista.
Ele cita, por exemplom a importância da ferramenta norueguesa RIMFAX, equipada com um radar que estuda o subsolo, e o instrumento espanhol MEDA, que vai medir, entre outras coisas, o tamanho e a forma da poeira, que poderia atrapalhar as medições infravermelhas da SuperCam.
Este último instrumento é resultado do trabalho de uma grande equipe, de cerca de 200 pessoas, de vários laboratórios, atuando sob a supervisão do CNES.