21/03/2021 - 16:42
“A fronteira está fechada”: na defensiva e apontado por ter causado a chegada de milhares de migrantes, o governo Joe Biden empregava neste domingo(21) todas as suas forças para demonstrar sua capacidade de lidar com sua primeira grande crise.
O presidente dos Estados Unidos foi escolhido especialmente por suas promessas de enfrentamento da pandemia e da crise econômica que ela gerou.
Apenas dois meses despois de sua chegada à Casa Branca, republicanos e algunos demócratas o acusam de criar um efeito de chamada à fronteira com o México.
“Estamos expulsando famílias, expulsando adultos sozinhos”, disse o chefe do Departamento de Segurança Interna (DHS), Alejandro Mayorkas, a quatro redes americanas.
Primeiro latino responsável pela política de imigração dos Estados Unidos, Mayorkas reconheceu em meados de março que um fluxo histórico de migrantes, o mais importante em 20 anos, deveria chegar à fronteira entre o México e os Estados Unidos.
O líder está no centro das críticas por sua mensagem aos migrantes da América Central de que “este não é o momento” de vir aos Estados Unidos, já que o novo governo está reconstruindo o sistema de imigração “desmantelado” pelo ex-presidente Donald Trump.
“É muito irresponsável”, disse o congressista republicano do Texas Michael McCaul na ABC neste domingo, acreditando que suas declarações deram aos migrantes a impressão de que eram bem-vindos.
– Menores desacompanhados –
Os legisladores democratas deste estado fronteiriço também lamentaram a mensagem do governo.
Vários migrantes relatam à AFP ao chegarem aos Estados Unidos que, em parte, viajaram devido à promessa de Biden de implementar uma política mais “humana”.
O governo democrata agora tenta retificar sua mensagem e evitar falar em “crise” referindo-se apenas a “problemas na fronteira”.
“Posso dizer com clareza: não venham”, lançou terça-feira o presidente aos que pensam em viajar.
Além da chegada de migrantes, o destino dos menores desacompanhados está no centro da polêmica.
Biden prometeu acabar com “uma vergonha moral e nacional” herdada de seu antecessor, referindo-se à separação de milhares de famílias de migrantes, das quais centenas ainda não se reuniram.
Mas, apesar de os filhos não estarem mais sendo separados dos pais, os Estados Unidos se deparam com a chegada de um número significativo de menores desacompanhados.
“Tomamos a decisão de não expulsar crianças vulneráveis”, reafirmou Mayorkas na CNN no domingo.
O oficial não negou o número de 5.200 crianças atualmente em centros para adultos nas fronteiras, bem acima do pico registrado sob a presidência de Trump.
Mais de 600 estão há mais de dez dias, apesar de a lei só autorizar um período máximo de três dias.
– ‘É difícil’ –
O senador democrata Chris Murphy contou na sexta-feira, depois de visitar um desses centros, que “centenas de crianças” foram “amontoadas em grandes salas abertas”.
“Tive de conter as lágrimas quando uma menina de 13 anos começou a chorar inconsolável”, “contando como ficou assustada depois de ser separada da avó e sem os pais”, que estavam nos Estados Unidos, ele tuitou.
“Trabalhamos noite e dia para mover essas crianças desses centros na fronteira para abrigos administrados pelo Departamento de Saúde”, disse Mayorkas, novamente destacando que herdaram um sistema “devastado” pelo governo Trump.
“Inauguramos três novos centros na semana passada”, “estamos executando nosso plano, isso leva tempo, é difícil”, reconheceu, sem dar mais detalhes sobre esse “plano” nem se comprometer com um calendário.
Tanto na conservadora rede Fox News, quanto na CNN – mais próxima dos democratas – o secretário foi questionado sobre a falta de acesso da imprensa aos centros de fronteira onde estão essas crianças.
“Durante a presidência de Trump, jornalistas foram autorizados a entrar nesses centros”, reclamou a jornalista Dana Bash na CNN.
Mayorkas aludiu à pandemia para justificar as restrições.