15/04/2021 - 10:58
O enviado dos Estados Unidos para o clima John Kerry começou nesta quinta-feira (15) em Xangai as negociações com seus colegas chineses, enquanto o presidente Xi Jinping anunciou sua participação na sexta-feira em uma cúpula virtual com França e Alemanha.
“Por convite de Emmanuel Macron”, Xi participará de uma videoconferência com os líderes franceses e alemães, anunciou nesta quinta o ministério das Relações Exteriores chinês em um comunicado.
Este encontro chinês-europeu, que não havia sido anunciado, parece estar destinado a contra-atacar o crescente peso dos Estados Unidos no cenário internacional na questão climática desde o seu retorno no início deste ano ao Acordo de Paris de 2015.
Kerry iniciou nesta quinta-feira negociações com autoridades chinesas em Xangai, uma semana antes de uma importante cúpula telemática prevista por Joe Biden para abordar a emergência climática.
Em um contexto de elevadas tensões entre Washington e Pequim, essa é a primeira visita à China de um alto funcionário do governo de Biden desde que ele tomou posse em janeiro.
A China informou ontem que Kerry se reuniria com seu colega Xie Zhenhua, que representou a China no acordo de Paris.
As negociações acontecem a portas fechadas e até o momento não há previsão de nenhum contato com a imprensa, de acordo com o consulado dos Estados Unidos em Xangai. A visita de Kerry será concluída no sábado.
O objetivo de Washington é preparar a cúpula à distância sobre o clima em 22 e 23 de abril por iniciativa do presidente americano. Xi ainda não confirmou sua participação.
– Protagonismo ofuscado –
Em seu primeiro dia na Casa Branca, em 20 de janeiro, Biden estabeleceu o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, que foi abandonado pelo presidente Donald Trump quase quatro anos antes.
No entanto, os chineses e os europeus, que reforçaram sua colaboração nas questões climáticas após a retirada dos EUA, não querem ver seu protagonismo ofuscado pelos americanos que acabam de voltar ao acordo.
A China “assume agora a responsabilidade da governança mundial do clima” e não permitirá que seja envolvida em uma iniciativa climática centrada nos Estados Unidos, alertou nesta quinta-feira o jornal nacionalista Global Times.
O presidente Xi prometeu no ano passado que seu país, o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo em termos absolutos, começaria a reduzir suas emissões poluentes até 2030 e em 2060 seria “neutro em carbono”.
Apesar das tensões entre China e Estados Unidos (no comércio, direitos humanos, Hong Kong, Taiwan e na situação dos muçulmanos uigures), a participação de Pequim é crucial para que as iniciativas climáticas sejam bem-sucedidas.
“Não podemos resolver esta crise climática sem que a China esteja na mesa de negociações”, admitiu Kerry na terça-feira à rede de televisão CNN. “Esperamos que a China se una a nós”.
Os ambientalistas esperam que a presença de Kerry incentive a China a reduzir sua dependência do carvão, que continua sendo a fonte de energia mais usada no país.
“A China é o maior consumidor de carvão do mundo, e continua construindo usinas elétricas de carvão na própria China e nos países da Nova Rota da Seda”, o projeto de infraestrutura do presidente Xi, afirmou Li Shuo, da Greenpeace China.