16/04/2021 - 11:01
Nos últimos 28 anos, Liliana Aufiero mantém em sua rotina de liderança da Lupo, fabricante de roupas íntimas e líder no segmento de meias, seu gosto por desafios. Neta do fundador, o italiano Henrique Lupo, a herdeira tem como um desses desafios preparar a sucessão do comando da empresa, para sair de uma companhia com direção familiar para uma gestão profissionalizada. A possibilidade mais concreta é de que a função seja exercida pelo atual diretor-superintendente, Carlos Alberto Mazzeu, que bate ponto na companhia há 40 anos. “Família não pode trabalhar na empresa porque dá divergência, ciúmes, briga”, disse Liliana à DINHEIRO. “Fico feliz que seja assim [a troca] porque é uma pessoa que absorveu a cultura da Lupo e vive com entusiasmo.”
Não há uma data definida para a passagem de bastão. Antes disso, Liliane tem a tarefa de realizar a travessia, justamente no ano do centenário da Lupo, das instabilidades econômicas provocadas pela pandemia e pelo fechamento temporário das 647 lojas em todo o País durante o auge da crise. “Não há referência, não existe livro que ensina como sair dessa situação”, afirmou. “É uma máquina constante de desafios”. Como consequência, a companhia encerrou 2020 com queda de 18% no faturamento líquido, com R$ 736,4 milhões contra R$ 898 milhões de 2019, e de 41,8% retração no Ebitda, que alcançou R$ 57 milhões.
A Lupo, que terminou o ano com prejuízo de R$ 19 milhões, não foi mais impactada porque obteve receita de R$ 59 milhões com a confecção de máscaras de proteção a partir de março de 2020, o equivalente a 8% do faturamento. Para este ano, o resultado desse modelo de negócio deverá ser bem mais representativo, motivado pela necessidade de mais restrições a partir da segunda onda de contaminação no País. Somente nos três primeiros meses deste ano, o faturamento de máscaras alcançou R$ 65 milhões. A empresa registra a produção diária de 250 mil máscaras e uma fila de espera para junho.
FOCO Mesmo com os bons resultados, Liliana espera que o ritmo de vendas de máscaras diminua ao longo dos meses, o que significaria o avanço do processo de vacinação entre os brasileiros. “Não quero que cresça. Vamos ver a tendência de produtos que não dependam da pandemia. É nisso que vamos focar”, disse.
Nesse sentido, o foco da executiva será ampliar o segmento esportivo que, mesmo sem dados consolidados, afirmou ter crescido durante o período. Como estratégia, a Lupo tem como alvo o estado de São Paulo, região que representa 40% das operações da marca – 25% apenas no interior paulista. A expansão também acontece com foco na ampliação do portfólio para as lojas multimarcas, destino de 65% da produção – e por meio da abertura de novas lojas. Nos planos da executiva está inaugurar 105 lojas em cinco anos. Desse total, 40 serão no modelo de franquias Lupo, dividida entre Lupo e Lupo Sport. Outras 40 lojas no modelo Exclusivas Lupo, além de 20 Exclusivas Trifil e cinco franquias Scala, marcas do grupo Scalina, adquirido pela Lupo em 2016.
Em Araraquara, sede da empresa e primeiro local de moradia do avô de Liliana quando chegou ao Brasil, em 1888, o plano é de inaugurar em outubro uma megastore de 526 m², que será uma das maiores da marca no País. Na cidade do interior paulista, a Lupo emprega 5 mil pessoas. Outras 2,1 mil estão na segunda fábrica, localizada em Itabuna, na Bahia.
Com o comércio fechado e a instabilidade da economia, paralisar o parque fabril por cerca de 80 dias afetou a diretamente a produção, que é 95% própria. Além disso, o algodão, principal matéria prima utilizada pela empresa, encareceu 41,7% no comparativo com 2019, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Em um cenário pós-pandemia e já sem a linha de produção voltada para a confecção de máscaras, a perspectiva da Lupo é de utilizar o material em outras peças. “Vamos ampliar o lado dos produtos com fio antibactericida e antiviral. Acredito que sejam mais voltados para crianças”, disse a presidente da companhia.
Para Marco Bedê, analista da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae Nacional, a possibilidade de troca no comando da Lupo, ainda que por um profissional que tenha relação estreita com a companhia, mostra o início de uma nova etapa para a empresa. “Com a mudança, as decisões terão cada vez menos fundamento subjetivo e emocional, e serão mais objetivas e profissionais”, disse. “A tendência é que a empresa, ao se profissionalizar, se torne mais competitiva.” Mais um desafio posto para Liliana e seu futuro sucessor.