19/05/2021 - 15:51
BRASÍLIA (Reuters) -O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello tentou eximir, em seu depoimento na CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro de qualquer responsabilidade por decisões tomadas no Ministério da Saúde, tanto na adoção de medicamentos sem eficácia quanto em orientações gerais sobre o combate à pandemia.
Em seu depoimento, Pazuello afirmou que nunca foi chamado para ser orientado e que também encontrou poucas vezes com os filhos do presidente, o senador Flávio (Republicanos-RJ), o deputado Eduardo (PSL-SP) e o vereador do Rio de Janeiro Carlos (Republicanos).
“Vou colocar de uma forma para botar uma pedra nesse assunto. O presidente da República falou para mim e para todos os ministros várias vezes: de assunto de saúde quem trata é o Ministro Pazuello. Então, nunca, nunca, e vou repetir: nenhuma vez eu fui chamado para ser orientado pelo presidente da República de forma diferente por aconselhamentos externos. Nunca, nenhuma vez”, disse Pazuello.
Pazuello era secretário-executivo do ministério na breve gestão de Nelson Teich. O ex-ministro confirmou à CPI o que já se sabia à época de seu pedido de demissão, de que Teich decidiu sair por não ter autonomia. Bolsonaro, já na época, pressionava pela adoção de um protocolo de tratamento precoce com cloroquina, medicamento que não tinha e não tem evidência alguma de eficácia contra Covid-19.
Dias depois que Teich saiu do cargo e Pazuello assumiu, ainda interinamente, foram estabelecidas orientações para uso da cloroquina em tratamento precoce contra Covid-19.
Ao longo de seu tempo no ministério, Pazuello evitou defender abertamente medidas como distanciamento social e uso de máscaras, que não eram apreciadas pelo Bolsonaro, mas o ministro acrescentou que o presidente não contestava suas posições.
“Minhas posições como ministro nunca foram contrapostas pelo presidente”, afirmou Pazuello.
Segundo o general, Bolsonaro não teria interferido em relação ao uso de cloroquina e quaisquer outras medidas e que ele, como ministro, não foi pressionado para tomar decisões.
Pazuello disse ainda que a questão do uso do medicamento virou uma questão “político-ideológica”, mas que a nota informativa feita pelo ministério, que definia critérios para o uso do medicamento no início da contaminação, não era uma protocolo ou uma determinação, mas uma orientação.
“O tratamento precoce é uma palavra que foi… virou uma posição política ideológica. Desculpa! O atendimento do paciente… Isto está escrito na nota informativa, de forma clara, para o paciente buscar o atendimento o mais rápido possível, para que o médico faça o seu diagnóstico e o médico defina a sua conduta”, disse Pazuello.
Segundo o ministro, a cloroquina estava sendo usada de maneira off label já pelos médicos, e a orientação teria sido feita para um uso seguro do medicamento
(Reportagem de Lisandra ParaguassuEdição de Maria Pia Palermo)