20/05/2021 - 9:12
Considerada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) a maior operadora de telefonia do Brasil, a Vivo está determinada a usar a sua relevância no mercado, a força de seus 33 mil colaboradores diretos e o engajamento de seus mais de 60 milhões de clientes únicos a favor da disseminação das boas práticas ESG (ambiental, social e de governança). Nessa entrevista à DINHEIRO, Renato Gasparetto, vice-presidente de Relações Institucionais da empresa, explica os passos que a multinacional deu para estar nos seletos grupos que reúnem as marcas mais alinhadas aos novos critérios da economia verde, como o The Sustainability Yearbook 2021 elaborado pela S&P.
DINHEIRO – Apesar de várias marcas já terem entendido a importância do ESG, muitas ainda estão patinando no planejamento e na execução das boas práticas. Como foi a implementação dessa agenda na Vivo?
RENATO GASPARETTO – Acho que dentro do ESG, muito se fala do E (ambiental) e do S (Social), mas pouco se fala no G (governança). No nosso entendimento é justamente a governança que estabelece os pilares mais sólidos para que se construa uma estratégia de perenidade no que se refere ao tema. Foi por esse pilar que começamos. Ainda em 2016, criamos o comitê global de sustentabilidade lá na matriz da empresa, Espanha. Dois anos depois, criamos o mesmo comitê aqui no Brasil e o ligamos diretamente ao CEO [cargo atualmente ocupado por Christian Gebara]. No ano passado, antes do início da pandemia, foi estruturado um comitê que assessora o Conselho de Administração nas decisões da agenda ESG. Tudo isso está dentro de uma estratégia que chamamos de Plano de Negócio Responsável onde atuamos em questões que vão desde a experiência do cliente, às ambientais e sociais.
Para quem está no início da jornada quais são os passos para a criação de uma estratégia ESG?
O primeiro passo é ter a vontade real de fazer. Não adote o ESG porque parece um modismo empresarial, porque não é. Faça pois sua empresa é uma célula crucial do tecido social e garantir a sustentabilidade da sociedade é garantir o seu negócio. Segundo, comece com uma pesquisa de materialidade. Esse estudo ouve todos os stakeholders para mapear suas percepções sobre o setor e empresa, dando elementos para que a alta direção tenha consciência de como está a situação atual da companhia e para que ela conheça os benchmarks setoriais e de outras indústrias tanto no Brasil como no mercado internacional. Foi esse processo que nos deu o guia do que fazer ao evidenciar que tínhamos que tratar a agenda com ambição.
E qual é a ambição da Vivo?
Chegamos à conclusão de que queríamos ser uma referência nacional e internacional em ESG. Para isso, começamos a perseguir a meta de entrar no Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 (ISE B3) e ter uma pontuação destacada no Dow Jones Sustainability Index (DJSI). Isso implicava em estudo, análise e investimento. Só no ano passado, a Vivo investiu R$ 8 bilhões. Em 22 anos, tempo decorrido pós privatização, foram R$ 430 bilhões.
A empresa estabeleceu uma meta: ser uma referência no assunto. Mas como a Vivo está medindo os resultados das ações adotadas?
Não dá para gerenciar o que não se mede. Então, entre as alternativas possíveis está adotar os indicadores de mercado – como a ISE B3 ou o DJSI – como uma régua; recorrer a entidades como o Monitor Empresarial de Reputação Corporativa (Merco) para ajudar na mensuração; ou buscar as certificações ISO – essas ajudam muito. As certificações dão um trabalho enorme, demoram de dois a três anos até serem obtidas, mas ajudam demais porque para consegui-las é preciso fazer um levantamento de onde a empresa está bem, de onde tem que melhorar e precisa haver o envolvimento de auditorias externas para avaliar os resultados. Na Vivo temos a ISO 14000 de meio ambiente, a ISO 26000 de responsabilidade social corporativa, a ISO 50001 que é de energia. Ter os selos funciona como um grande validador para outros indicadores nacionais ou internacionais.
Tudo isso pode levar a uma impressão de que o ESG só traz custo para as empresas. Estar em conformidade traz impacto positivo no balanço também?
Não tenho dúvida que sim. Um exemplo prático: a BlackRock, gestora com mais de US$ 8 trilhões em ativos, divulgou pelo terceiro ano consecutivo sua carta aos clientes colocando a agenda ESG no centro da discussão. Na edição deste ano, classificou o risco climático como risco de investimento e já avisou que não investirá mais em empresas que não tenham claras suas estratégias de ESG. Além disso, os fundos atrelados à sustentabilidade que antes eram de nicho, agora mostram um crescimento enorme em rentabilidade. Estar em conformidade com as boas práticas ESG resultará em atração de investidores e em possibilidade de financiamentos a valores mais razoáveis. Em outras palavras, se não há sustentabilidade, não há negócio.
A Vivo foi uma das primeiras empresas a atrelar bônus a metas de sustentabilidade. Essa decisão teve impactos práticos?
Desde 2019, passamos a ter 20% do bônus individual dos executivos atrelados ao cumprimento das metas de ESG. Essa decisão reforçou o aspecto da governança e acabou mobilizando a empresa inteira nessa jornada. Naquele ano já conseguimos atingir as metas de ser uma empresa carbono neutro e de uso de 100% de energia renovável. Sem dúvidas, uma convocação para uma reunião sobre a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) ganha outra dimensão quando todos percebem que uma parte do percentual de 20% está atrelada ao controle do GEE. O peso das metas de redução das emissões passou de 1% para 5% neste ano.
Ainda que a Vivo não produza equipamentos com marca própria, o uso dos serviços oferecidos sempre se dá por meio de aparelhos com plástico, vidro e inúmeros componentes eletrônicos que estão com um ciclo de troca cada vez mais curto. Como vocês gerenciam esse impacto ambiental?
Estamos, por exemplo, em um programa do setor de geração distribuída de energia no qual será construído um parque com 70 usinas de energias renováveis. Além disso, os celulares que vendemos nas nossas lojas recebem um selo chamado Eco Rating, uma avaliação que mede o impacto ambiental de todo o processo de produção, uso e descarte do aparelho considerando 100 critérios sociais e ambientais. Dessa forma, damos ao consumidor a opção da escolha por um produto mais sustentável sem acréscimo de preço.
E o descarte?
Ainda que a gente não produza os equipamentos, sabemos de nossa responsabilidade. No Brasil, infelizmente não temos a cultura do descarte responsável. Se a separação não for adequada, a reciclagem fica prejudicada. Para minimizar o problema, criamos um programa – para o qual demos ampla publicidade – para educar o consumidor a fazer o descarte de maneira correta em nossas 1,6 mil lojas. O valor resultante desse material vai para o programa de Cidadania Digital voltado aos professores da rede pública oferecido pela Fundação Telefônica. Ano passado, tivemos um Dia D em que reunimos 1,8 tonelada de materiais a serem descartados – só com os colaboradores da Vivo e em plena pandemia. No acumulado do ano foram mais de 8 toneladas, 15% a mais do que em 2019.
Outro ponto crucial no ESG é a inclusão. E o Brasil ainda sofre muito com a exclusão digital. Ainda que seja necessária uma forte atuação governamental para resolver o problema, como vocês estão trabalhando o assunto?
Esse é um ponto crucial. Durante a pandemia, a questão escolar foi uma das mais dolorosas. Inclusão digital é cidadania. Veja o exemplo do acesso ao auxílio emergencial que foi todo via aplicativos. Nesse caso, não cobramos os dados. Mas, de maneira geral, estamos contribuindo para a digitalização do Brasil. Existe um Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) que foi criado há 22 anos e nunca foi usado. Lá, naquela época, o dinheiro seria usado para a instalação de orelhões. São bilhões de reais parados. Finalmente uma legislação que permite o uso destes recursos para projetos de inclusão digital acabou de ser aprovada, falta regulamentá-la. Esse é um movimento em que estamos atuando.
Falando em diversidade, qual o grande desafio para incluir grupos diversos na estrutura hierárquica da empresa?
Hoje 42% do nosso quadro é composto por mulheres, sendo 25% diretoras e 33% em nível gerencial. Temos 25% de mulheres no Conselho de Administração. Na última edição do Programa de Trainee, 43% das vagas foram preenchidas por negros e contamos com 25 profissionais transgêneros. Sentimos que é uma questão geracional e que hoje todos estão muito mais abertos, exigindo e impulsionando a diversidade nas empresas.