20/05/2021 - 12:36
Aos 77 anos, recostado em sua esposa, Sebastião Salgado poderia dar uma impressão de fragilidade por trás da máscara. Mas quando toma a palavra, o lendário fotógrafo demonstra uma vitalidade louvável, seja para defender a Amazônia ou para criticar aqueles que acusa de destruí-la.
Salgado apresentou nesta semana em Paris seu último trabalho, “Amazônia”, que introduziu com uma mensagem militante: “Todos temos que lutar” e “ajudar os movimentos de resistência brasileiros” a frear o desmatamento, afirmou, denunciando que o governo do presidente Jair Bolsonaro tenta “se apropriar dos territórios indígenas e dos parques nacionais” para desenvolver novas extensões agrícolas.
Como explicou à AFP, sua luta por meio da fotografia está longe de acabar.
Pergunta: Qual é o objetivo de seu último trabalho “Amazônia”?
Resposta: “Queremos que as pessoas que forem ver esta exposição tomem ciência do que é a Amazônia. Não é só uma grande planície com grandes rios no centro. Também é a montanha, um sistema de água, os ‘rios voadores’ que chegam a quase todas as regiões do mundo e as comunidades indígenas. Portanto, é uma tentativa de apresentar a Amazônia”.
P: Sua exposição também chama a atenção para as ameaças que pesam sobre este ecossistema, começando pelo desmatamento.
R: “A grande esperança é que juntos conseguiremos frear a destruição dos biomas amazônicos, que conseguiremos protegê-los, e proteger também as comunidades indígenas. Não só para preservá-los, mas porque precisamos deles para o planeta: a Amazônia garante uma grande distribuição de umidade no planeta (…), além de sequestrar o carbono graças a esses milhões de árvores que se ocupam de transformá-lo e liberar o oxigênio que respiramos”.
P: Na cúpula sobre o clima do mês passado, o presidente Jair Bolsonaro se comprometeu a eliminar o desmatamento ilegal no Brasil em 2030, depois de ter aumentado drasticamente desde que ele chegou ao poder em janeiro de 2019. Acredita que é possível?
R: “O governo de Bolsonaro conta uma mentira atrás da outra. Dá a impressão de que resolve os problemas, mas mente para continuar destruindo. Depois de fazer essa declaração no grande encontro organizado pelo presidente dos Estados Unidos (Joe Biden), no mesmo mês houve a maior destruição da floresta amazônica, pouco depois da sua promessa”.
Um total de 580,55 km2 foi desmatado na Amazônia brasileira em abril, um nível recorde para esse mês, segundo dados oficiais.