Bill Gates e Alexandre Ribeiro. O primeiro você deve conhecer. Bilionário, 65 anos, quarto homem mais rico do mundo, com fortuna avaliada em US$ 126,3 bilhões, fundador da Microsoft, uma das cinco maiores empresas de tecnologia do planeta. O segundo provavelmente você não conhece, mas vai conhecê-lo agora. Estudante de 22 anos, nascido na favela da Torre, em Diadema, cidade da região metropolitana de São Paulo. O que duas pessoas de realidades tão díspares podem ter em comum? Por que os dois estão juntos, como protagonistas, no início de uma reportagem sobre tecnologia?

Vamos às respostas. Ambos utilizam o Duolingo, plataforma gratuita de aprendizado de idiomas mais popular e o app educacional mais baixado do mundo. São 500 milhões de usuários globais, entre eles Bill Gates, que faz aulas de francês. Desses, 30 milhões no Brasil, entre os quais Alexandre Ribeiro, que aprende inglês e alemão. O fato de um magnata, fã dos musicais da Broadway de Rodgers e Hammerstein, e um jovem amante do hip hop, que se autointitula “moleque de favela”, usarem a mesma ferramenta para aprender outras línguas ilustra bem a proposta democrática e social do Duolingo, que tem a missão de “tornar a educação gratuita, divertida e acessível a todos”.

“Aprender idioma traz sensações boas, de conquista”, disse à DINHEIRO Analigia Martins, diretora de marketing da empresa no Brasil. “Temos um papel mais importante do que as escolas tradicionais, que é ajudar todas as pessoas.” A executiva comanda a operação no País, segundo maior mercado da Duolingo, que abriu seu escritório por aqui dez meses. A relação de Bill Gates com a plataforma é interessante. Ele já disse se sentir “muito estúpido” por não falar outros idiomas. E deixou intocada parte de seus bilhões de dólares para se cadastrar gratuitamente no Duolingo.

Mas a história do Alexandre Ribeiro com o aplicativo é mais fascinante. Quando foi trabalhar como jovem aprendiz em um hotel na região da Rua Oscar Freire, área nobre de São Paulo, teve contato com outras culturas. Começou um curso de inglês em que gastava quase todo seu salário. Não conseguiu continuar. Foi então que conheceu o Duolingo. Começou a usá-lo por dois motivos. Primeiro porque possibilitou que estudasse gratuitamente todos os dias. Segundo porque é muito competitivo e a plataforma estimula isso com seu método de gamificação.

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“Ferramentas como o Duolingo podem ser de grande ajuda, tendo paciência e sendo constante nos estudos” Alexandre Ribeiro estudante.

Ao completar as aulas (curtas, de cinco minutos em média) e exercícios baseados em situações cotidianas como ir ao aeroporto ou fazer compras no mercado, o usuário ganha vidas, pontos de experiência, há divisões ranqueadas para competir com outros estudantes e até conquistas a serem desbloqueadas. A corujinha Duo (mascote do Duolingo) também aparece na dinâmica para orientar e dar dicas para obter melhor desempenho. Inteligência artificial auxilia a calibrar o nível de aprendizado em que está cada usuário.

O que começou por necessidade e brincadeira virou coisa séria para Alexandre. O estudante conseguiu dominar o inglês e resolveu fazer trabalho voluntário em Hamburgo, na Alemanha. No país europeu, candidatou-se a uma bolsa de estudos para a universidade Bard College Berlin. O Duolingo abriu outra porta para Alexandre. Fez o teste de proficiência em inglês na plataforma, o Duolingo English Test. Passou, ganhou a bolsa e agora estuda alemão no app. “Ferramentas gratuitas como o Duolingo podem ser de grande ajuda, tendo paciência e sendo constante nos estudos”, afirmou.

Para atrair mais ‘Alexandres’ no Brasil, o Duolingo impulsiona conteúdos nas redes sociais e até muda algumas nome de abas na plataforma. O brasileiro, que gosta de gramática, não clicava tanto no botão Dicas, onde estão as regras dos idiomas. A nomenclatura virou Explicação e aumentou em 40% o engajamento nessa aba.

MONETIZAÇÃO Criado em 2011 em Pittsburgh, nos Estados Unidos, o Duolingo oferece gratuitamente ensino de 40 idiomas, desde os mais falados do mundo até idiomas fictícios, como o Alto Valiriano, de Game of Thrones, e o Klingon, de Star Trek. A receita da companhia, na casa dos US$ 200 milhões em 2020, vem de duas principais fontes: 85% das assinaturas do Duolingo Plus, versão sem propagandas e um ensino mais fluído, e 15% de publicidade que empresas que fazem anúncios programáticos no app e da cobrança do teste de proficiência, no valor de US$ 49. Desde que foi lançada, a plataforma já recebeu US$ 183 milhões em aportes, entre eles do Google e do ator Ashton Kutcher. O valuation está na casa dos US$ 2,4 bilhões. Um sucesso que atrai investidores e alunos. De Bill Gates a Alexandre Ribeiro.