Foi a ação de zoombombing mais popular no Brasil. Até aqui. Na quinta-feira (27), o ministro Paulo Guedes participava de uma videoconferência com lideranças empresariais da indústria e jornalistas credenciados quando o encontro virtual sofreu o ataque. Os invasores, supostamente estrangeiros, gritavam palavras em diversas línguas, usavam nomes no alfabeto cirílico e chegaram a exibir um vídeo pornográfico – não, não era uma planilha de dados da taxa de desemprego recorde ou da expectativa de inflação acima do teto da meta. Era de um homem se masturbando. Foram 120 segundos de fama. Ou lama, dependendo do ponto de vista.

Live com Paulo Guedes tem invasão hacker com música e imagens pornográficas

Invasões desse tipo se multiplicaram com as atividades remotas em função do isolamento social planetário provocado pela pandemia. Os participantes desses ataques normalmente querem apenas tumultuar os encontros, sem outros objetivos mais temerários, mas há inúmeros registros de propagação de conteúdos racistas, especialmente em encontros escolares. Em abril de 2020, o CEO e fundador do Zoom, Eric Yuan, chegou a se desculpar por incidentes do tipo. Ele afirmou que a empresa não estava preparada para a explosão de usuários novatos, mais desatentos em relação a padrões de segurança. “Foi um erro e uma lição aprendida,” disse à época. Um ano depois pode-se dizer que a lição não foi aprendida por todos.

Na prática, as ações para evitar o zoombombing são paliativas. Basicamente, a plataforma permite regras de configurações para gerenciamento de participantes, de compartilhamento de tela e uso de sala de espera para barrar participantes indesejáveis. O ataque ao encontro de Guedes e empresários catapultou à palavra ao dia a dia brasileiro. Na semana entre 23 e 29 de maio (a reunião foi dia 27) o termo atingiu o ápice de buscas entre os assuntos no Google na história, segundo a ferramenta Trends. Apesar de ter nascido da palavra, a plataforma apenas paga o preço da fama, já que esse tipo de ataque pode ser dar em qualquer ambiente de videoconferência. Pode rolar um zoombombing numa reunião do Meet (Google), Teams (Microsoft) ou WebEx (Cisco).

O Zoom, criado em 2013, teve seu boom no ano passado. E é por esse motivo que a aula da faculdade ou a reunião da firma estão cada vez mais expostas a ataques. O app foi baixado 485 de vezes. O número de clientes corporativos já se aproxima do meio milhão. O valor de mercado da companhia está em US$ 97 bilhões e as ações valorizaram 5,6% ao longo de maio. As receitas do ano fiscal de 2021 (encerrado dia 31 de janeiro) bateram em US$ 2,6 bilhões, impressionante alta de 326% sobre o ano anterior (pré-pandemia) e 43 vezes maior que a de cinco anos antes (ano fiscal 2017). O lucro líquido já é de US$ 672 milhões. “Estamos entusiasmados em ser líder na evolução em direção a um futuro híbrido de trabalho, um futuro que permitirá maior felicidade e produtividade dos funcionários, em benefício de nossas comunidades e do planeta”, afirmou Eric Yuan em sua carta de apresentação dos resultados do melhor ano da histíoria da empresa. Nesta terça-feira (1), a empresa divulga os resultados de seu primeiro trimestre do ano fiscal de 2022 (fevereiro-março-abril de 2021). Espera-se que sem zoombombing no evento. Até porque a missão da empresa é “fazer videoconferências sem atritos e seguras”.