04/06/2021 - 9:34
Videochamadas que travam, filmes em streaming em péssima qualidade, ou loading na melhor parte da sua música favorita em uma live tão esperada. Você bem que pode esbravejar com a operadora de telefonia, mas o problema da sua internet ser lenta tem mais relação com o governo do que com elas. Com os atrasos do leilão do 5G (a previsão inicial era realizar em 2020) e o aumento exponencial do uso de celulares em razão da pandemia (alta de 8% em março, para 240 milhões, segundo a Anatel), a falta de uma internet mais rápida e com maior capacidade de transferir dados se tornou um problema social e econômico.
Com o leilão da faixa travado do Tribunal de Contas da União, o ministro das Comunicações, Fabio Faria, corre com uma agenda para tentar provar ao órgão como outros países avançaram nessa tecnologia. Mas isso não bastará.
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Na próxima semana, Faria estará nos Estados Unidos em uma caravana para acompanhar de perto redes privadas de 5G. De acordo com ele, o objetivo é fazer os ajustes finais para ter uma proposta adequada às melhores práticas do setor. “O 5G terá importância total na retomada da economia”, disse, garantindo que o leilão que repassará a faixa para a iniciativa privada acontecerá em julho deste ano.
Durante a missão aos Estados Unidos, a comitiva brasileira vai conhecer as redes privativas de comunicação do país norte-americano. Na comitiva estarão os ministros do TCU Bruno Dantas, Walton Alencar Rodrigues e Raimundo Carreiro, que é o relator do edital do 5G.
“Estados Unidos, Coreia do Sul, Japão, Alemanha e Finlândia, todos os países que estão fazendo o leilão [de 5G] estão fazendo com rede privativa. Isso será o futuro. Esse assunto será totalmente vencido na viagem. Eles [ministros do TCU] poderão tirar suas dúvidas”, disse Faria.
A questão das redes privativas tem sido um dos principais pontos de atrito entre o tribunal e o governo. A ideia é que as empresas que ganharem o direito de explorar a tecnologia sejam obrigadas a construir duas redes privativas, uma para o próprio governo e outra que seria usada no programa Amazônia Conectada e Sustentável. Juntas, as duas redes têm um custo médio de R$ 2,5 bilhões em investimento das teles. Para René Lombre, especialista em contas públicas e professor da Universidade de Brasília, a medida é uma forma do governo garantir investimentos fora do Teto de Gastos. “O TCU entendeu que repassar essa obrigação pode ser uma forma de driblar a responsabilidade fiscal imposta pelo teto”, disse.
Entre as operadoras, o assunto também é visto com cautela, sob argumento de que a criação de uma rede privada seria o mesmo que financiar a infraestrutura de um concorrente, já que o aparato seria administrado pela estatal Telebras. As operadoras, inclusive, demandaram que a questão fosse levada ao TCU. Sobre esse impasse, o ministro afirmou que será resolvido. “Não acredito em voltar à estaca zero. É um trabalho de oito meses e vamos saneando as dúvidas. Essa viagem é para que a gente possa dar celeridade ao leilão”, afirmou. Ele diz não haver qualquer irregularidade nessas obrigações.
Na agenda de Faria também esra previsto encontro com empresários e potenciais investidores do ramo das telecomunicações, entre eles dirigentes da Qualcomm, Motorola, IBM, Ericsson e Nokia, além de fundos de investimento. Não há, porém, qualquer sinalização de encontro com Huawei, empresa chinesa que fabrica hoje equipamentos com os preços mais competitivos do mercado. A empresa ficou conhecida após um impasse com o ex-presidente Donald Trump, que acusava a empresa de usar o 5G como meio de espionar países. Nunca houve qualquer comprovação de tal prática, mas bastou para que o governo Bolsonaro adotasse um discurso similar.
Ajustando todos esses pontos, seria natural pensar que em breve sua internet estará muito mais veloz que a de hoje. Mas infelizmente a resposta é não. Em um parecer inicial (estimado por Faria no início de abril) o governo previu que todo o País estaria conectado no 5G apenas em 2027. Sendo uma transição lenta e cheia de potenciais atrasos, estima-se que nosso 5G chegará quando países como Japão, China, Estados Unidos e Nova Zelândia já estejam implementando uma internet ainda mais rápida. O 5G serviria para a demanda de hoje. Em 2027, mesmo com o 5G, sua internet seguirá lenta para o volume de dados e celulares que o Brasil abrigará.