18/06/2021 - 6:44
Há dez anos, as famílias líbias não imaginavam que um dia fariam um piquenique em um dos quartéis mais famosos de Muammar Khadafi. Isso se tornou realidade com a conversão da antiga academia militar das “amazonas” em um parque no coração de Trípoli.
No longo reinado de Khadafi, as “amazonas” eram as mulheres uniformizadas que garantiam a segurança do coronel deposto. E esta academia sempre foi percebida como um símbolo do poder ditatorial e excêntrico do “Guia”, derrubado e liquidado em 2011 no contexto da “Primavera árabe”.
Uma década de caos depois, o parque construído no local – inaugurado há algumas semanas – tem recebido um grande número de visitantes. Situa-se em um platô onde sopram ventos mediterrâneos, em uma área de 80.000 m2.
“Gosto de praticar esportes e aqui posso passear com minha esposa, enquanto as crianças brincam”, diz à AFP Muhannad Kashar, de 47 anos, que vai ao parque todas as tardes com sua família.
Com ciclovia, carrosséis, campos de futebol e espaços verdes, o parque abriu suas portas em um contexto de melhora da situação política, após a instalação de um governo unificado em março encarregado de conduzir a transição até as eleições de dezembro.
Depois da revolta de 2011, várias milícias tentaram aproveitar o caos para tomar o controle desse espaço, que tem uma localização estratégica entre o porto e o centro da cidade. Para isso, não hesitaram em recorrer às armas.
– “Sábia decisão” –
Por fim, há quatro anos, o anterior Governo de União Nacional (GNA) – cuja autoridade era exercida apenas em uma parte do país – decidiu transformar o local em espaço de lazer, primeira etapa da desmilitarização do centro da capital.
“É um sucesso”, orgulha-se o prefeito de Trípoli, Ibrahim Al-Khlifi.
“Nosso objetivo era limitar a proliferação de armas e suprimir todos os acampamentos militares no interior das cidades”, explica ele à AFP, considerando esta reconversão uma “sábia decisão” que deve abrir caminho para outras semelhantes.
Assim, antigos sítios militares poderão ser transformados em jardins, parques, ou balneários, completa o prefeito.
Ao contrário de outros lugares da cidade, onde entulho e lixo se acumulam, aqui tudo é limpo. Há contêineres por toda parte, e os visitantes são cuidadosos. Não deixam nada pelo caminho.
Famílias felizes fazem um piquenique com chá, ou café, nas mesas e bancos de madeira à sua disposição, enquanto as crianças brincam nas proximidades.
Alguns praticam manobras com skates, e outros correm para um caminhão de sorvete, que toca uma campainha para anunciar sua passagem.
– “Mensagem de esperança” –
As mulheres, que tendem a evitar andar sozinhas na rua por medo de serem assediadas e por haver poucas calçadas, podem praticar seu esporte com tranquilidade, sem a necessidade de estarem acompanhadas.
E, raro neste país, os ciclistas têm uma pista especial para eles.
Mahmud al-Tijani chegou de bicicleta da cidade de Zawiya, 45 quilômetros a oeste da capital, para testar esta pista, “que não existe em outros parques públicos”.
“Assim posso conhecer outros ciclistas de diferentes cidades”, diz.
Com o apoio da prefeitura, o artista plástico Iskandar Al-Sokni pintou no chão, na parte central do parque, uma obra para “transmitir uma mensagem de paz”.
Demorou três meses para desenhar círculos amarelos, vermelhos e azuis em 2.500 m2, representando ondas.
A ideia é “criar felicidade por meio das cores (…) e uma mensagem de esperança para todos os líbios”.