Divulgar informações imprecisas, inverídicas ou exageradas sempre foi muleta para políticos em véspera de eleição. As falsas promessas e as distorções da realidade, no entanto, não costumam ser marcas de um governo. Candidato mentir é normal. Quanto ele se torna ocupante de cargo público, é crime. No caso de Jair Bolsonaro, as mentiras são uma marca registrada. Em 2020, segundo relatório da ONG internacional Artigo 19, divulgado na quinta-feira (29), o presidente da República mentiu 1682 vezes. O número é assustador quando comparado ao de outros países. As mentiras ameaçam diretamente a democracia e o crescimento da economia.

Sobre discursos mentirosos na política, a filósofa Hannah Arendt afirma que a mentira se sobrepõe quando não há capacidade, força, inteligência ou interesse em mudar a realidade. Nesse sentido, não foram poucas as vezes em que Bolsonaro mentiu sobre o andamento da economia. Para ser mais objetiva, listei as mentiras econômicas proferidas apenas em julho deste ano.

 26/07/2021

“Estou tentando, via projeto de lei complementar, regulamentar uma emenda, uma Emenda Constitucional de 2001, onde diz que o ICMS de cada combustível deve ter o mesmo valor em todo o Brasil.”

MENTIRA: O presidente se refere à Emenda Constitucional nº 33/2001. Ela, no entanto prevê que o valor do imposto estadual pode ser estabelecido por ad valorem (quando o tributo incide como uma porcentagem sobre o valor da operação), como é feito hoje em dia, ou por preço por unidade de medida adotada (R$ por litro, por exemplo).

22/07/2021

“Nós gastamos o ano passado com auxílio emergencial o equivalente a dez anos de Bolsa Família.”

MENTIRA: Segundo dados do Portal da Transparência, entre 2010 e 2019 foram gastos R$ 340,3 bilhões, em valores corrigidos pela inflação. Já dados do Tesouro Transparente indicam que o governo Bolsonaro pagou R$ 293,1 bilhões de auxílio emergencial em 2020. Essa informação falsa foi citada 7 vezes por Bolsonaro em julho.

21/07/2021

“Eu falava desde o começo: temos dois problemas pela frente, o vírus e o desemprego. Devemos tratá-los de forma bastante responsável e simultânea.”

Desde que chamou o vírus de “gripezinha”, o discurso de Bolsonaro era que o vírus traria imensos problemas para a economia, sem citar especificamente o emprego. Foram 18 entrevistas listadas pela IstoÉ Dinheiro em que o presidente minimizou a pandemia e criticou governadores por “parar a economia em função de um vírus” e não tratou a doença como o grande problema.  Essa informação falsa foi citada 8 vezes por Bolsonaro em julho.

18/07/2021

“Tem estado que é 40% o ICMS [da gasolina].”

MENTIRA: A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) informou que a maior alíquota de ICMS que incide sobre a gasolina é de 34%, no Rio de Janeiro. A alíquota média é de 28,6%. Essa informação falsa foi citada 6 vezes por Bolsonaro em Julho

16/07/2021

“Nós temos 13 refinarias no Brasil.”

MENTIRA: O Brasil possui hoje 17 refinarias em operação. As quatro que o presidente não contou não são Petrobras. Essa informação falsa foi citada uma vez por Bolsonaro em julho.

10/07/2021

“Argentina é um dos países que mais fechou o comércio. É o país também que mais lockdown fez. E é o país que mais morre gente por milhão de habitantes.”

MENTIRA: A Argentina não foi o país que mais decretou lockdown nem o que tem mais mortes por milhão de habitantes. Em ranking criado a partir de algoritmo da Universidade de Oxford para mensurar as medidas de restrição, a Argentina aparece em 16º lugar, com pontuação de 75. No ranking de número de mortes por Covid-19 elaborado pelo Our World in Data, a Argentina ocupa atualmente a 14ª colocação, com 2013,1 mortes por milhão de habitantes.  Essa informação falsa foi citada duas vezes por Bolsonaro em julho.

04/07/2021

“Nós terminamos 2020 com mais empregados do que dezembro de 2019.”

MENTIRA: A afirmação de Bolsonaro é falaciosa porque não há como medir os números que ele compara. Desde 2020 o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mudou sua metodologia de pesquisa. Até 2019 o indicador envolvia apenas os trabalhadores CLT e agora incluem também trabalhadores temporários, trabalhadores avulsos, agentes públicos, trabalhadores cedidos e dirigentes sociais, o que empurra o indicador para cima de modo artificial. Essa informação falsa foi citada nove vezes por Bolsonaro em julho.