Pesquisas relacionadas às bacias sedimentares da Foz do Amazonas, Pará-Maranhão/Barreirinhas e Potiguar, situadas na margem equatorial brasileira, divulgadas, hoje (4), em seminário virtual, mostram semelhanças com descobertas feitas no Golfo da Guiné, na África, e na Guiana/Suriname, indicando grande potencial exploratório. Os estudos foram realizados pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) a partir de dados disponibilizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

As pesquisas resultam de parceria da ANP com universidades brasileiras e estrangeiras, que possuem acesso gratuito a informações públicas e sem restrições de confidencialidade do setor, armazenados no Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP) da agência. Em contrapartida, as instituições compartilham os trabalhos acadêmicos realizados com base nas informações acessadas.

O diretor substituto da ANP, Raphael Moura, afirmou que faz parte do planejamento estratégico do órgão promover a expansão sustentável da margem equatorial do Brasil, visando propiciar desenvolvimento econômico, geração de empregos e distribuição de renda, oriundos da atividade petrolífera. 

Ele avaliou que o seminário é importante para reforçar e divulgar o potencial petrolífero da margem equatorial. “A margem equatorial brasileira é estratégica porque nós temos ali alto potencial para a descoberta de óleo leve, que tem um valor comercial maior, além de uma localização geopolítica estratégica, próxima dos maiores mercados consumidores do mundo e em uma região cujo índice de desenvolvimento humano. em relação à média brasileira, é menor” explicou.

Interesse estratégico

Para Raphael Moura, a probabilidade de ampliar a atividade industrial nessa região é de interesse estratégico do país. Observou que a margem equatorial, do lado do Brasil, fica no mesmo contexto geológico da Guiana e do Suriname. Em função das descobertas na margem equatorial do lado desses países, o diretor afirmou que há grande interesse e urgência por parte da ANP de conhecer o potencial do lado brasileiro. 

“Ainda ressaltam esse senso de interesse e urgência os processos de transição energética, o maior grau de seletividade de investidores e de empresas petrolíferas em relação à seleção do portfólio e projetos, e a necessidade de sincronizarmos também os projetos que envolvem a produção e exploração do petróleo com as iniciativas que visam a neutralização do carbono”, afirmou.

Ele lembrou que a margem equatorial do Brasil representou o principal foco da 11ª rodada de leilões, realizada pela ANP em 2013, quando foram disponibilizados diversos blocos desde o Amazonas até a bacia potiguar. 

O objetivo dessa rodada foi replicar o modelo de acumulação recém descoberto na costa oeste africana, que culminou na descoberta de inúmeros campos petrolíferos, dos quais o mais notável foi Jubilee, em Gana. Os depósitos petrolíferos encontrados em águas profundas e ultraprofundas no continente africano são esperados em toda a margem equatorial brasileira, que tem evolução geológica análoga à margem oeste da África, disse.

O campo de Jubilee foi descoberto em 2007 e começou a produzir em 2010. As reservas provadas de Jubilee alcançam três bilhões de barris de petróleo. Moura disse que o Brasil ainda não conseguiu comprovar o modelo buscado à época da realização da rodada, em 2013. 

Além desse campo, foram feitas outras descobertas em Gana que acabaram motivando descobertas similares na margem equatorial sul-americana, que apresentam evolução geológica similar. “A gente acaba podendo evidenciar, de maneira inequívoca, os resultados através dos nossos vizinhos”.

Como exemplo, ele citou a descoberta, em 2015, pela Exxon, do Campo de Liza, na Guiana, seguindo-se novas descobertas posteriores. Liza começou a produzir em 2019. Até hoje, a Guiana conta com 19 descobertas confirmadas, que somam mais de nove bilhões de barris de petróleo equivalente recuperáveis. 

Óleo e gás natural

Moura indicou que toda a margem equatorial brasileira está disponível para exploração, mas há apenas três poços perfurados em lâmina d'água acima de dois mil metros. As três bacias objeto dos estudos da Universidade Estadual do Norte Fluminense mostram indícios de óleo e gás natural. 

“A ANP acredita no potencial da margem equatorial como catalisador do desenvolvimento regional, em especial do Norte e Nordeste brasileiros”disse. A ideia, segundo frisou, é repetir o sucesso dos vizinhos Suriname e Guiana. Para atingir esses objetivos, ele observou ser necessário um esforço conjunto da indústria, da academia, do regulador e das políticas de governo. “São necessários investimentos em pesquisa e desenvolvimento e nossas universidades têm um papel central nesses esforços para que possamos converter o potencial da atividade em prosperidade para a sociedade brasileira”.

Os estudos foram apresentados pelo geólogo de petróleo e professor da UENF, Hélio Severiano Ribeiro, pela mestranda Carolina Amorim da Cruz e pela doutoranda Ediane Batista da Silva. Ribeiro informou que a universidade está em busca de financiamento para dar sequência a pesquisas com a modelagem dos sistemas petrolíferos, aplicação de atributos físicos e análise de risco.