06/09/2021 - 14:17
Para alguns, a colina representa a resiliência de Nova York; para outros, é uma ferida aberta. Abaixo dela estão os destroços dos ataques de 11 de setembro de 2001, misturados com restos mortais.
O local em Fresh Kills, Staten Island, era o maior aterro sanitário a céu aberto do mundo até ser fechado em março de 2001. Mas, depois que os sequestradores da Al-Qaeda reduziram as Torres Gêmeas a pilhas de aço e concreto, foi reaberto para abrigar os destroços do World Trade Center.
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Hoje é um local que gera consternação para alguns familiares das vítimas. Os primeiros caminhões chegaram na noite do atentado, e por dez meses Dennis Diggins dirigiu o trabalho de mover 600.000 toneladas de entulho do “Marco Zero”.
“Não sei como seria se eu tivesse um membro da família aqui. Mas posso dizer que o material foi tratado com o máximo respeito”, lembra Diggins, 20 anos depois. “Não se misturou com lixo, há uma separação”, acrescenta.
A área se tornou uma pequena cidade, com milhares de funcionários de saneamento, polícia, agentes do FBI e serviço secreto. Todos eles vasculharam o local em busca de pistas, objetos de valor e restos mortais que pudessem ajudar a identificar as vítimas.
Kurt e Diane Horning estavam entre os parentes dos mortos nos ataques que rapidamente visitaram a área. Seu filho Matthew era um administrador de banco de dados que morreu quando a Torre Norte desabou, uma hora e 42 minutos depois de ser atingida por um dos aviões sequestrados.
Eles ficaram estressados assim que chegaram: o local estava cheio de gaivotas e lama. Encontraram um cartão de crédito, um sapato, um relógio.
Um trabalhador lhes disse que nos primeiros 45 dias, por falta de equipamento, trabalharam com ancinhos e pás.
“A ideia era trabalhar dentro do orçamento, com rapidez (…) ‘Vamos mostrar a resiliência do país e não parar nos mortos’. E foi o que fizeram”, diz Diane.
Diggins diz, em vez disso, que nem ele nem seus trabalhadores trataram a área como um aterro sanitário normal e operaram “com respeito”. “Sempre se soube que havia restos humanos. Nunca paramos de pensar nisso”, conta, visivelmente emocionado.
Ele também afirma que, assim que os caminhões deixaram o local, contratou mergulhadores para fazer buscas no cais ao redor e garantir que nada fosse deixado sem inspeção.
– “Lixo” –
Entre o início e o fim da operação, a colina, que oferece uma vista deslumbrante da Baixa Manhattan, onde ficavam as Torres, subiu mais de 25 metros. Separada do resto da colina por uma camada isolante, a pilha de entulho foi coberta por lonas de plástico.
Os Horning acreditam que alguns dos restos mortais de Matthew estão enterrados lá. Até o momento, apenas um fragmento do osso de seu filho foi recuperado.
Suas tentativas de remover todos os restos mortais foram rejeitadas pelo governo da cidade, liderada na época pelo prefeito Michael Bloomberg.
“Foi uma perda dupla. Alguns decidiram que era uma boa ideia explodir meu filho. Mas então meu próprio governo decidiu que eu não era boa o suficiente para enterrá-lo”, diz Diane.
Em 2005, 17 deles entraram com ações judiciais. Eles tentaram levar o caso à Suprema Corte, mas os juízes se recusaram a examiná-lo.
“Eu me senti pessoalmente responsável por arrastar as outras famílias para isso. Agora eles não têm esperança e devo viver com isso”, lamenta Diane.
O local ainda despeja mais de 40.000 metros cúbicos de metano por dia a partir do lixo em decomposição depositado ali por muitas décadas.
Quando for seguro, as autoridades de Nova York planejam abrir um parque memorial no local. A previsão é que aconteça em 2035.
Mas os Horning não estão interessados. “É uma lata de lixo”, diz Diane. “É como se na manhã de Natal você desse ao seu filho um pacote lindamente embrulhado e quando ele o abre tem lixo dentro”.