22/09/2021 - 8:53
Cientistas do Instituto Pasteur de Paris anunciaram que identificaram em morcegos do norte do Laos uma cepa do vírus muito parecida com a do SARS-CoV‑2, que originou a covid-19.
As conclusões da pesquisa ficaram disponíveis a partir desta quarta-feira (22) na plataforma científica “Research Square”, de livre acesso.
O estudo ainda não foi avaliado de forma independente por outros pesquisadores, antes de ser publicado em uma revista científica, como acontece habitualmente.
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Os cientistas franceses, ao lado de seus colegas do Instituto Pasteur do Laos e da Universidade Nacional deste país, integraram entre o fim de 2020 e início de 2021 uma missão na região norte do Laos para analisar diferentes espécies de morcegos que vivem em cavernas calcárias.
“A ideia inicial era tentar identificar a origem desta epidemia”, explicou à AFP Marc Eloit, diretor do laboratório especializado na descoberta de novos patógenos no Instituto Pasteur de Paris.
Após análises das diversas mostras obtidas e, graças a dados coincidentes, “suspeitamos que alguns morcegos insetívoros poderiam hospedar o vírus”.
As amostras foram recolhidas em uma região que faz parte de um imenso relevo cárstico, com formações geológicas calcárias, ideais para abrigar colônias de morcegos, que vai do Laos até o norte do Vietnã e o sul da China.
“Laos compartilha este território comum com o sul da China, repleto de cavernas onde vivem os morcegos, e por isso decidimos explorar por este lado”, explica Marc Eloit. O que acontece nesta região é representativo de todo o ecossistema das cavernas.
As sequências dos vírus encontrados nos morcegos são quase idênticas às do SARS-CoV-2 (nome científico do vírus da covid-19) e os cientistas conseguiram demonstrar que é capaz de contaminar células humanas.
Os vírus examinados, no entanto, não tinham o que é conhecido como “local de clivagem da furina”, uma função presente no SARS-CoV-2, que ativa a proteína Spike.
Esta proteína é a que permite ao vírus melhorar seu poder de penetração nas células humanas e, por este motivo, é a chave do poder patógeno do vírus que se propagou por todo o planeta.
– O mistério da propagação do vírus –
Várias hipóteses poderiam explicar o elo perdido nos vírus recentemente analisados, disse Marc Eloit.
“Talvez um vírus não patogênico tenha circulado primeiro entre os seres humanos antes de sofrer mutação”, sugere o especialista.
“Ou talvez um vírus muito próximo dos vírus identificados possua este local de clivagem, e ainda não encontramos”.
Mas a pergunta mais sensível é outra: “Como é possível que o vírus dos morcegos encontrado nas cavernas tenha acabado em Wuhan?”, uma cidade que fica mais de 2.000 quilômetros ao norte.
Wuhan é a cidade chinesa considerada a origem oficial da pandemia de covid-19.
Até o momento não há uma resposta clara para esta pergunta.
Seja como for, este estudo “representa um grande avanço na identificação da origem do SARS-CoV-2”, destaca Eloit.
A principal conclusão seria a de que existem vírus muito próximos ao SARS-CoV-2 nos morcegos, capazes de infectar o homem sem um animal intermediário, como os pangolins.
No fim de agosto, um grupo de especialistas que recebeu a missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de elaborar um relatório sobre a origem da covid-19 advertiu que as investigações estavam em um “ponto morto”.
Os cientistas que deram o sinal de alerta integraram a equipe de 17 pesquisadores que a OMS enviou à China, onde trabalharam com outros 17 cientistas chineses.
A investigação inicial, no mês de janeiro, resultou em um relatório conjunto, divulgado em 29 de março, que não apresenta uma resposta clara às incógnitas.