05/10/2021 - 13:12
Um novo apagão global forçou bilhões de usuários a dispensarem todos os serviços do Facebook, como WhatsApp, Instagram, Messenger e Oculus na segunda-feira (4).
Como um incidente dessa magnitude pode silenciar o gigante americano da mídia social? Qual impacto isso pode ter?
– O que aconteceu? –
O Facebook permanece vago sobre a origem da falha, limitando-se a evocar “mudanças de configuração dos roteadores que coordenam o tráfego de internet entre nossos centros de dados”.
Vários especialistas em segurança cibernética acreditam que o incidente pode estar relacionado a um problema de manutenção do “Border Gateway Protocol” (BGP), que cria um caminho entre um computador e um site.
Como um controlador de tráfego aéreo que revisa regularmente as rotas, “o Facebook fez uma atualização dessas estradas”, explica Sami Slim, operador do data center da Telehouse, mas “entrou no caminho errado”, acrescenta, tornando o Facebook e suas plataformas afiliadas inacessíveis aos usuários da Internet.
Desaparecido dos radares da web, o domínio facebook.com foi colocado à venda por alguns instantes nos sites de alguns provedores de hospedagem.
– Por que durou tanto?-
As plataformas demoraram mais de seis horas para voltarem ao normal. “A duração da indisponibilidade não representa o tempo que o Facebook levou para diagnosticar o problema”, disse Pierre Bonis, CEO da Afnic, a associação responsável pelo gerenciamento de nomes de domínio na França.
“Há tempo de respostas (uma vez detectado o erro) e “as novas informações devem ser recuperadas por todos os intermediários do canal de internet”, detalha.
Embora a falha ocasional seja frequentemente relatada nas redes sociais, particularmente no Instagram, a escala da paralisia de segunda-feira não tem precedentes.
– Quem está por trás? –
Erro humano, erro técnico ou ato malicioso? Nada permite que uma hipotese seja mais real do que outra.
No entanto, alguns observadores apontam para a coincidência entre a paralisação de segunda-feira e as recentes revelações de uma denunciante sobre os efeitos tóxicos do Facebook e do Instagram na sociedade, o que causou problemas para o grupo liderado por Mark Zuckerberg.
Depois de transmitir documentos internos ao Wall Street Journal, France Haugen, uma ex-engenheira do Facebook, apareceu na televisão americana no domingo, acusando a empresa de escolher “lucro no lugar da segurança”.
Ela também testemunhou perante senadores dos Estados Unidos nesta terça-feira.
– Qual o impacto? –
Além de estar indisponível para bilhões de usuários em todo o mundo, o Facebook não conseguiu veicular anúncios por várias horas, que são sua principal fonte de receita. Em Wall Street, a ação da plataforma caiu quase 5% na segunda-feira.
Mas os infortúnios do grupo foram uma bênção para seus concorrentes. O aplicativo de mensagens Telegram, rival do WhatsApp, passou da 56ª para a 5ª posição no ranking dos aplicativos gratuitos mais baixados nos Estados Unidos, segundo a empresa especializada SensorTower.
“As inscrições estão aumentando na Signal (bem-vindos a todos)”, tuitou este outro canal de mensagens, famoso por sua criptografia de dados.
– Quais as lições? –
A queda do Facebook mostra que mesmo os pilares da internet não estão protegidos de um colapso mundial. “É a prova de que o ‘too big too fail (‘muito grande para falhar’) não funciona na computação”, diz Bonis.
Os especialistas também destacam os limites da concentração de seus diversos serviços pelo Facebook. “Nos últimos dois anos, o Facebook consolidou seu ecossistema de aplicativos díspares em uma única infraestrutura de rede”, disse Mike Proulx, vice-presidente e diretor de pesquisa da empresa de pesquisa e consultoria Forrester.
“Essa abordagem permite que a empresa ganhe eficiência operacional e se isole de um eventual desmantelamento por parte dos reguladores. Mas também expõe o Facebook ao risco de concentração. Um eventual risco único que produz um efeito em cascata. Digamos que seja como as velhas guirlandas elétricas de Natal: se uma das luzes se apaga, todas as outras se apagam”, explica.