20/10/2021 - 8:00
A velocidade com que transformações digitais aconteceram durante a pandemia e busca por novas frentes de negócio transformaram os SPACs em um fenômeno. O modelo ganhou força em 2020 e continuou crescendo bastante em 2021, oferecendo um caminho rápido para que empresas de tecnologia fossem listadas na bolsa, driblando o burocrático processo tradicional de IPO. Muitas startups embarcaram nessa, incluindo agtechs, levantando quantias expressivas.
Afinal, o que são as SPACs? A sigla se refere a Special Purpose Acquisition Companies, empresas do “cheque em branco”, como são conhecidas. São veículos que captam dinheiro antes de se fundirem a alguma startup que mostra potencial. Os investidores colocam recursos nessas empresas confiando que os gestores vão encontrar bons ativos e levá-los à bolsa – daí vem o apelido. Por conta dessa rapidez, são vistos como uma espécie de via expressa para o IPO.
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Mas parece que a bolha dos SPACs pode estourar em breve. Um levantamento recente da consultoria SPAC Research mostrou que 137 empresas perderam US$ 75 bilhões em valor de mercado desde fevereiro. Os dados levam em conta todas as negociações feitas nesse modelo, e alguns analistas do mercado financeiro já duvidam de sua viabilidade a longo prazo. A situação não é diferente no agronegócio. O caso mais recente envolve a agtech de agricultura vertical AeroFarms, que desistiu da fusão com a SPAC Spring Valley – uma negociação que avaliaria a startup em US$ 1,2 bilhão. Em um comunicado, as empresas disseram que a decisão foi mútua.
Desde o começo do ano, seis acordos envolvendo agtechs e SPACs foram anunciados, segundo o site AgFunder News, mas apenas dois foram para frente: a AppHarvest, também de agricultura vertical, e a Ginkgo Bioworks, que cria soluções de biotecnologia. As ações da AppHarvest caíram 29% em agosto, após reduzir suas metas de faturamento, e os papéis da Ginkgo caíram 12% depois que ela foi chamada de “engodo” pela Scorpion Capital, firma especializada em pesquisar empresas listadas na bolsa e identificar fraudes.
Muitos investidores passaram a olhar para o agronegócio em busca de startups realmente inovadoras (ou “disruptivas”, para usar uma expressão da moda) capazes de alcançar o cobiçado status de unicórnio. Mas é preciso cautela. Nem todas são realmente revolucionárias. E a via expressa para o IPO representada pelos SPACs acaba escondendo pontos de atenção, como objetivos financeiros irreais, problemas na gestão ou falta de um modelo de negócios robusto – que acabam sendo expostos depois, quando já é tarde demais e a empresa está listada.
É nesse cenário de muita empolgação, recursos fartos e falta de julgamento crítico que empresas vão a público antes de atingirem a maturidade necessária. E isso é um desserviço para o setor.