A declaração de um homem de que é bisneto do Touro Sentado foi confirmada pela análise de DNA de uma mecha de cabelo do líder indígena norte-americano, no que se considera a primeira vez que um teste genético corrobora o vínculo familiar entre uma personalidade histórica e um descendente vivo.

O feito foi possível graças a uma nova técnica, capaz de produzir informação genética útil a partir de uma amostra pequena ou fragmentada de DNA antigo, desenvolvida por uma equipe de cientistas, chefiada pelo professor Eske Willerslev, da Universidade de Cambridge, e do Centro de Geogenética da Fundação Lundbeck, na Dinamarca.

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Suas descobertas foram publicadas nesta quarta-feira (27) em um artigo na Science Advances. Agora, os mesmos métodos podem ser usados para investigar outras personalidades histórias, do foragido Jesse James à família do czar russo, caso se disponha de uma amostra de DNA antigo.

Estudos genéticos antigos têm buscado coincidências entre o DNA específico no cromossomo “Y”, transmitido pela linhagem masculina ou, se a pessoa morta era mulher, o DNA específico nas mitocôndrias transmitido pela mãe.

Neste caso, nenhum dos dois métodos pôde ser usado, pois o homem, Ernie LaPointe, de 73 anos, afirmou estar vinculado com Touro Sentado por parte de mãe, explicou Willerslev à AFP.

Em seu lugar, ele e seus colegas encontraram uma forma de buscar o DNA “autossômico” não específico do sexo.

Eles encontraram uma pequena quantidade de DNA autossômico na amostra de cabelo e desenvolveram em seguida um método para compará-lo com o DNA de LaPointe e outros 13 membros da tribo Lakota Sioux, para ver se as semelhanças no genoma realmente indicavam uma relação próxima ou eram lugar comum.

 

“Com base nisso, pudemos estimar o nível de parentesco com Touro Sentado e isso encaixa com o bisneto”, confirmou Willerslev, acrescentando: “Temos 100% de certeza”.

“Ao longo dos anos, muitas pessoas tentaram questionar a relação que minhas irmãs e eu temos com Touro Sentado”, contou LaPointe em nota à imprensa da Universidade de Cambridge.

Lapointe acredita que os restos mortais de Touro Sentado estejam atualmente em um sítio em Mobridge, Dakota do Sul, em um local que não tem ligação significativa com o guerreiro e a cultura que representava.

Embora tivesse registros históricos que atestavam a relação, como certidões de nascimento e óbito, LaPointe buscou a evidência de um vínculo genético para ajudá-lo a ter o direito de sepultar os restos de seu antepassado em um local mais apropriado.

Antes de poder movê-los, os restos deverão ser analisados de forma similar à amostra.

– Cerimônia do curandeiro –

 

Touro Sentado, cujo nome verdadeiro era Tatanka-Iyotanka (1831-1890), chefiou 1.500 guerreiros Lakota na Batalha de Little Bighorn, em 1876, e acabou com o general americano Custer e cinco companhias de soldados.

Foi morto a tiros em 1890 pela “Polícia Indígena”, que atuava em nome do governo dos Estados Unidos.

“O Touro Sentado sempre me fascinou e quando era jovem, queria ser um nativo americano”, expressou Willerslev.

Há cerca de uma década, Willerslev soube da busca de LaPointe para confirmar seu parentesco por DNA e ofereceu seus serviços.

A mecha do couro cabeludo de Touro Sentado foi entregue a LaPointe pelo Instituto Smithsonian em 2007, mas antes que pudesse entregá-la a Willerslev, quis saber se as intenções do cientista eram idôneas.

LaPointe pediu a Willerslev para participar de uma cerimônia em um quarto escuro, com tambores e cânticos, da qual também participou um curandeiro.

“Uma luz azul esverdeada apareceu no meio do quarto e eu sou um cientista por natureza. Sendo assim, pensei, bom esse é o curandeiro correndo com uma lâmpada, mas quando estiquei a mão na escuridão, não havia ninguém ali”, lembrou Willserslev.

Em seguida, ele e seus anfitriões foram fumar um cachimbo Lakota e comer carne de búfalo e LaPointe lhe informou que aquela luz arrepiante era o espírito de Touro Sentado dando sua bênção ao estudo.

No entanto, LaPointe deu a Willerslev apenas quatro dos 30 centímetros da mecha, e em seguida queimou o resto, seguindo as instruções do suposto espírito.

Willerslev sentiu naquele momento que aquilo tinha sido “desastroso” porque não teria DNA suficiente, mas as circunstâncias obrigaram a equipe a desenvolver seu método inovador no transcurso dos dez anos seguintes.