02/12/2021 - 18:48
Depois de testar o patamar dos 100 mil pontos neta quarta-feira, 1º, no fechamento, o Ibovespa sustentou alta robusta durante toda esta quinta-feira, 2. O tom do dia foi ditado, desde cedo, pelo andamento da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios no Senado, que foi finalmente aprovada na casa no início da tarde. O bom humor levou o mercado a fechar na máxima do dia, aos 104.446,24 pontos, uma alta de 3,66%. Bem distante da abertura e mínima do dia, 100.874,58 pontos (+0,01%).
Após dias de perda significativa no índice, a percepção é de que hoje o mercado encontrou formas de brigar por uma alta. Por um lado, houve a resolução de um capítulo importante da principal incerteza política e fiscal doméstica: a aprovação, no Senado, da PEC que abre o espaço para o Auxílio Brasil e para o pagamento de precatórios. Por outro, os investidores avaliam que os demais fatores de influência no índice ou ajudaram – caso das bolsas americanas, que subiam robustas após a queda de ontem, e das commodities – ou não atrapalharam, caso do PIB. “O mercado estava querendo motivos para subir depois de apanhar tanto nas últimas semanas”, diz o especialista de renda variável da Blue3, Victor Hugo Israel.
Após ter sido adiada e muito negociada nos últimos dias, tirando o fôlego do Ibovespa por diversos pregões, a PEC dos Precatórios foi aprovada por 64 a 13 no primeiro turno e 61 a 10 no segundo turno do plenário do Senado. A medida abre um espaço fiscal de R$ 106,1 bilhões em 2022 e permite a implantação do Auxílio Brasil no valor de R$ 400 a partir de dezembro deste ano.
“Hoje ficou bem conectado, foi bem direta a ligação entre a aprovação da PEC e o resultado positivo do Ibovespa. O Ibovespa descolou positivamente das bolsas americanas, algo que a gente não vê há algum tempo”, afirma Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos, completando: “A PEC em si não é algo que agrada, mas o plano B preocupava muito, que era decretar calamidade e assinar um cheque em branco em um ano eleitoral. Tirar da frente o risco de plano B foi interpretado de forma muito boa”.
A PEC ainda terá que passar por uma nova votação na Câmara, que deverá se posicionar sobre as alterações feitas no Senado. Para Armstrong Hashimoto, sócio e operador da mesa de renda variável da Venice Investimentos, no entanto, o principal desafio foi superado: “Ao nosso ver e de boa parte do mercado, o principal momento da PEC foi passado. A Câmara talvez faça algum ajuste, mas encaminha para ser votado”.
O dado, divulgado hoje, do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, com queda de 0,1%, teve pouco impacto na bolsa. O mercado previa estabilidade, ou seja, boa parte do resultado já estava implícito nos preços. “Mesmo vindo abaixo da expectativa, o PIB mais fraco é algo que o mercado vem se acostumando nas últimas semanas. O Boletim Focus já vinha mostrando o PIB sendo revisado para baixo, não foi surpresa para ninguém”, apontou Hashimoto.
O maior efeito prático da recessão técnica que se configurou com o resultado de hoje da atividade brasileira foi nos juros, à medida em que o mercado abrandou as apostas em uma postura mais agressiva do Banco Central na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o que tira pressão de alguns papéis. “Os ativos de risco são beneficiados pelo fechamento da curva de juros”, pontua Israel, da Blue3.
Por exemplo, os papéis de setores como varejo, muito ligados ao crédito e sensíveis, portanto, aos juros, têm apanhado nos últimos meses. Apesar de o índice setorial do segmento ter tido alta hoje (2,17%), ainda segue aquém do ritmo do Ibovespa, com impacto da Black Friday mais fraca que o esperado e o peso da inflação. Destaque para as Lojas Americanas, que teve ambos os papéis (AMER3 e LAME4), configurando como as maiores quedas do Ibovespa, -3% e -2,55%, respectivamente. Após sofrer nos últimos dias e mais cedo, as ações da Magazine Luiza reduziram a queda e fecharam o dia com recuo de -1,74%.
Na outra ponta, as ações de maior peso no índice tinham desempenho positivo robusto. Apesar da volatilidade, a alta no petróleo impulsiona os papéis da Petrobras. As ações preferenciais da companhia fecharam com ganho de 6,98% e as ordinárias, 8,29%. As siderúrgicas também tinham desempenho forte hoje, a despeito da queda no minério de ferro em Qingdao, na China. A Vale terminou o dia em alta de 4,64%.