03/12/2021 - 12:26
O Laos inaugurou nesta sexta-feira (3) sua primeira linha ferroviária, uma infraestrutura de quase 6 bilhões de dólares financiada em grande parte pela China sob a iniciativa “Novas Rotas da Seda” e que deve impulsionar a economia deste pequeno país do Sudeste Asiático.
A rota de 1.035 quilômetros cruza as cadeias de montanhas do país para conectar a cidade chinesa de Kunming (sudeste) com Vientiane, capital do Laos.
Na quinta-feira, uma cerimônia budista aconteceu para abençoar a nova linha. Nesta sexta, durante a cerimônia oficial de abertura, o presidente Thongloun Sisoulith falará virtualmente com o chinês Xi Jinping.
A China, que espera expandir a rota através da Tailândia e da Malásia até Singapura, financiou a linha como parte de sua política “Novas Rotas da Seda”. A iniciativa financia projetos de infraestruturas em todo o mundo para aumentar a influência de Pequim.
Segundo a China, o trecho de 414 km que atravessa Laos impulsionará a frágil economia do país ao conectá-la ao mercado chinês.
“Deixará de ser um país sem litoral para se tornar um centro regional”, afirmou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin.
O Laos, um país fechado de governo comunista com 7,2 milhões de habitantes, é um dos mais pobres da Ásia.
Embora os analistas reconheçam o potencial econômico da ferrovia, expressam preocupação com o país, que assume 30% do custo global da infraestrutura e que teve que se endividar em 1,06 bilhão de dólares para financiá-la.
Além disso, para colher os benefícios da ferrovia, o governo deve adotar reformas substanciais, incluindo a melhoria de seu sistema de gestão de fronteiras, de acordo com um relatório do Banco Mundial.
Segundo o economista-chefe do Banco de Bangkok, Burin Adulwattana, o projeto pode mudar a situação econômica do país. “Não vejo isso como uma tentativa da China de levar o Laos à falência… não é uma estratégia de cavalo de Troia. Acho que será uma situação em que todos ganham”, disse.
Mas há pouca transparência sobre como o Laos financiará sua dívida, em um país onde o salário mínimo é de cerca de US $ 110 por mês, segundo o professor da Universidade Nacional da Austrália Greg Raymond.
“A questão é se a economia tem condições de aproveitar esse sistema de transporte”, acrescentou.
Apesar de registrar poucos casos de covid-19 até abril, a pandemia atingiu a economia do Laos, que contraiu 0,4% em 2020, o menor nível em três décadas, de acordo com o Banco Mundial.
E a esperança de uma recuperação em 2021 desapareceu quando o Laos ficou confinado, registrando 70.000 infecções nos últimos oito meses.
Além disso, dois terços da população vive em aldeias rurais e, até agora, o país tinha apenas 4 km de ferrovias, então 75 túneis e 167 pontes tiveram que ser construídos.
O projeto forçou 4.400 agricultores e moradores a deixar suas terras, e muitos esperaram por indenizações ou receberam quantias insuficientes, de acordo com o Movimento Laosiano pelos Direitos Humanos em um relatório.