07/12/2021 - 7:00
Começa nesta terça-feira (7) a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2021. O resultado já é conhecido por onze entre dez especialistas do mercado. A taxa referencial Selic será elevada em 1,5 ponto percentual e vai subir dos atuais 7,75% ao ano para 9,25% ao ano. Com isso, o Banco Central (BC) terá criado uma das maiores reviravoltas na política monetária brasileira da história recente. No início do ano, a Selic estava em 2%.
A questão não é o resultado da reunião, que já é mais do que conhecido – e, se houver uma surpresa, vai provocar ondas de choque cataclísmicas no mercado. O que realmente interessa é o que vai ocorrer a partir de 2022.
Na segunda-feira (6), como ocorre em todos os inícios de semana, o BC divulgou o Relatório Focus, com as projeções dos especialistas dos bancos. A expectativa para a Selic em dezembro de 2022 está em 11,25%. O prognóstico para o fim de 2023 está em 8,00%, ante 6,75% do que havia sido estimado três meses atrás. Ou seja, a expectativa dos especialistas é de o aumento da Selic ser mais acentuado e se estender por muito mais tempo do que se esperava anteriormente.
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Calibrar os juros de modo a aquecer ou resfriar a temperatura da economia é o que cabe ao BC para tentar manter a inflação dentro das metas. Porém, o mercado aguarda uma desaceleração da economia mesmo antes de o BC elevar os juros. Ou seja: não será preciso esfriar ainda mais uma economia que está gradualmente perdendo seu ritmo.
Em outras palavras, a política monetária está “atrasada”. Devido à pandemia, o BC manteve os juros em 2% ao ano por vários meses. Isso desancorou as expectativas de inflação. A alta de preços foi agravada pelas commodities, pelo petróleo e pela escassez hídrica, que vem pressionando para cima os preços dos alimentos. Os juros deveriam ter subido há mais tempo e de maneira mais gradual, em vez dessa arrancada durante 2021.
Se olharmos apenas para os índices de inflação, que devem ficar acima do teto da meta em 2022, o Copom deveria prosseguir em sua tarefa desagradável de elevar a taxa de juros e apertar a política monetária. Porém, se observarmos apenas o comportamento esperado da economia real, o BC poderia até mesmo afrouxar a política monetária para conter a desaceleração do PIB, que recuou -0,1% no terceiro trimestre. A economia fraca tende a tirar energia dos índices de inflação. Assim, a atividade econômica terá desacelerado antes de a alta de juros fazer efeito.
Conclusão: por fazer depois, o BC terá de fazer mais. Terá de manter os juros mais elevados e por mais tempo, reduzindo a atividade econômica além do que teria sido necessário se o Copom não tivesse perdido a hora de acertar a economia.