14/12/2021 - 17:07
A noite da última quinta-feira (9) foi de imensa tristeza para mim. Assisti, perplexo e com certa sensação de impotência, ao meu querido Esporte Clube Bahia ser rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro de Futebol. Tive vontade de entrar em campo, chutar a bola decisiva para o gol, dar o “carrinho” que precisava para tirar a bola do time cearense, mostrar ao juiz que estava errando e prejudicando meu time. Disputar com garra e coragem cada lance da partida. Lutar como um bom guerreiro.
Tenho a mesma sensação quando percebo que empresas antes icônicas e, às vezes até mesmo alguns clientes, começam a perder sua relevância no mercado e estão com o prazo de validade vencido. Algumas vão para recuperação judicial ou direto para a falência. Já outras são compradas por preço de “bolacha quebrada”.
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No caso do “Baheeea”, forma como o “Esquadrão de Aço” é carinhosamente chamado pelos seus milhares de torcedores, uma série de equívocos causou essa debacle. A começar pelo seu presidente, claramente despreparado para dirigir um clube dessa envergadura. O time já havia flertado bem de perto com o descenso no ano passado. Ainda assim ele fez de conta que estava tudo bem e ficou confiando na força dos orixás para impedir a queda. Além disso, contratou um plantel muito ruim, trouxe um técnico argentino desconhecido e tolerou dez derrotas seguidas, sem tomar providências.
Adicionalmente, o time não teve um líder dentro do campo. Faltou um “capitão” capaz de dar tranquilidade ao time quando esteve sob pressão. Por isso, estava ganhando alguns jogos e permitiu a virada de vários adversários. O Nino Paraíba é um dos melhores jogadores do Brasil na lateral direita, mas sem a necessária liderança para ser o capitão do time. A culpa não é dele e, sim, de quem o escala nesse papel. O técnico Guto é bom e arrumou o time, mas não tinha jogadores com amor à camisa e garra imprescindíveis para garantir os resultados desejados.
Estou detalhando essa triste realidade na esperança que o leitor consiga utilizar cada um desses pontos como metáfora para analisar a realidade na sua empresa. Alguns pontos precisam sempre estar no radar do comando das organizações, tais como:
– Contamos com líderes à altura do cargo?
– Temos um plantel adequado de gestores nas diferentes posições-chave?
– Há líderes na ponta, nas diversas linhas de frente em cada operação?
– Nossos profissionais possuem o necessário grau de espírito de equipe, garra e amor à marca para superar os obstáculos?
Toda vez que um acionista, membro de conselho de administração, CEO e, até mesmo, o diretor de uma unidade de negócio ou área funcional me pergunta o que acho da sua empresa, sempre respondo: “depende do tipo de jogo e do campeonato que vocês pretendem disputar!”
Complemento o argumento aqui a partir de exemplo recente que utilizei com o principal acionista de um grande grupo empresarial: “se vocês querem disputar a Série B, vocês estão ‘ok’. Mas, se pretendem a Série A, terão de promover muitos ajustes no negócio, na estrutura e no time. E se sonham em disputar a Champions League, aí precisarão promover mudanças muito mais profundas”.
No dia seguinte, esse mesmo acionista me ligou dizendo que eu o tinha feito perder o sono. Respondi que cumpri meu papel de dizer o que o cliente precisa ouvir, e não de apenas falar o que ele quer ouvir. Fiquei, até certo ponto, surpreso com o convite que me fez esta semana para apoiá-lo num turn-around, que pretende iniciar em janeiro, apesar dos resultados razoáveis que conseguiu em 2021.
A importância desses questionamentos cresce quando nos aproximamos de um ano que será, no mínimo, complexo e pleno de incertezas no contexto político e suas consequências na macroeconomia.
Se sua empresa deseja atuar bem no jogo e não ser rebaixada para a Série B, urge formular respostas para questões essenciais, que listo a seguir:
1. Qual o propósito da empresa e qual o modelo de negócios que serão pertinentes e vencedores?
2. Pretende servir a quais clientes (foco)?
3. Quais são os resultados desejados?
4. Quais competências são necessárias adquirir para ter sucesso?
5. Qual modelo de gestão e estrutura precisam ser montadas? E, nesse sentido, com quais pessoas (perfil) se deve contar?
6. Quais atitudes necessitam estar contempladas no mapa de conduta?
7. Quais as prioridades para o período 2022-25?
O ano de 2021 tem sido melancólico para muitos de nós. Perdemos parentes ou amigos para a pandemia. Ademais, muitos empregos foram perdidos e muitas empresas pereceram devido, entre diversos outros fatores, à alta da inflação, do câmbio e dos juros, que tinha taxa Selic de 2,25% ao ano, em janeiro, e já está em 9,25%. Talvez viremos o ano acima dos 10%.
Não vai ser fácil atravessar 2022. Portanto, assuma o leme da sua empresa com mão firme, promova mudanças estratégicas no seu modelo de negócios e no seu modelo de gestão; lute com garra e determinação para sua empresa não perder relevância e não ser rebaixada da “liga” na qual atua.
Evite cometer os erros do Esporte Clube Bahia. E cuidado para não acabar contribuindo, mesmo indiretamente, dando o passe errado que pode resultar em gol-contra e, consequentemente, no rebaixamento da sua empresa na “liga” aonde atua.