04/01/2022 - 16:28
A fabricante brasileira de aviões Embraer informou à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) que pretende realizar estudos sobre a eventualidade de a tecnologia móvel 5G interferir em sistemas de aviação do País. O assunto já vem sendo monitorado desde o ano passado pela Anatel e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em razão das discussões sobre o tema no exterior, em especial nos Estados Unidos. A Anatel, que ainda avalia os questionamentos apresentados pela Embraer e de que forma acompanhará os ensaios da empresa, não prevê qualquer alteração nos prazos de implantação do 5G no Brasil em função dos estudos.
O nível de atenção das autoridades brasileiras sobre o assunto é medido por uma questão técnica. Os Estados Unidos – onde existe preocupação sobre possíveis interferências -, decidiram utilizar a faixa de 3,7 GHz a 3,98 GHz para as redes 5G comerciais. A Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) recomenda uma separação de 200 MHz em relação a esse espaço e o utilizado em serviços de radionavegação aeronáutica, que opera na faixa de 4,2 GHz a 4,4 GHz. No Brasil, por sua vez, a distância é ainda maior – e, portanto, mais segura, já que a faixa de 3,5 GHz leiloada compreende 3,3 GHz a 3,7 GHz.
“Assim, o 5G no Brasil está afastado em pelo menos 500 MHz da frequência de operação destes equipamentos, enquanto nos Estados Unidos esse afastamento é de pouco mais de 200 MHz”, afirmou o conselheiro da Anatel Moisés Moreira, que é presidente do Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência na faixa de 3.626 a 3.700 MHz (GAISPI). Portanto, a avaliação é de que o risco de haver alguma interferência é mínimo.
A aviação depende da faixa de 4,2 GHz a 4,4 GHz para o funcionamento dos radioaltímetros, que calculam a altura de uma aeronave acima do solo, sistema sensível para a operação aérea. Por isso, a Embraer enviou ofício à Anatel para informar sua intenção de realizar ensaios em voo e em solo para verificar a susceptibilidade de suas aeronaves diante de uma eventual interferência do 5G, e solicitou apoio da agência para a definição dos ensaios.
Procurada, a Embraer afirmou que o “problema em questão se aplica unicamente às operações no território norte-americano” e que está em contínua cooperação com a Anatel. “A Embraer tem acompanhado as discussões sobre os possíveis impactos da tecnologia 5G na aviação, tem colaborado continuamente com as autoridades aeronáuticas competentes e orientado seus operadores para garantir o mais alto grau de segurança da operação das aeronaves Embraer neste cenário”, disse a empresa.
O governo e a Anatel realizaram o leilão do 5G em novembro do ano passado. As empresas vencedoras assumiram o compromisso de começar a oferecer a tecnologia a partir de 31 de julho de 2022, iniciando pelas capitais e o Distrito Federal. A faixa dos 3,5 GHz é considerada a melhor para o uso do 5G no Brasil, com velocidade de transmissão altíssima.
No fim do ano passado, em razão das discussões sobre o assunto no exterior, a Anatel informou que estudos sobre o tema foram iniciados ainda no início de 2021. “A posição dos Estados Unidos gerou preocupação no setor de aviação civil, dadas as características das redes de quinta geração, como maior potência de transmissão, além do uso de antenas com conformação de feixes”, afirmou a Anatel em novembro. No comunicado, por sua vez, a agência também destacava que a decisão americana sobre o uso da faixa de 3,9 GHz não encontra paralelo com o 5G no Brasil na faixa de 3,5 GHz e que o País licitou a frequência seguindo as “melhores práticas internacionais de gestão do espectro”.
Nos últimos dias, a discussão ficou ainda mais quente nos Estados Unidos, após autoridades americanas solicitarem no último sábado, 01, que empresas de telecomunicações atrasassem em duas semanas o lançamento de um novo serviço de 5G no País. A solicitação, inicialmente negada, foi atendida pelas empresas, segundo comunicados divulgados nesta segunda, 3. O adiamento foi pedido em carta à AT&T e à Verizon pelo secretário de transporte americano, Pete Buttigieg, e o chefe da Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês), Steve Dickson, para que fossem levantados mais dados sobre interferência da tecnologia em equipamentos de voo que monitoram altitude.