05/01/2022 - 15:42
O presidente francês, Emmanuel Macron, gerou indignação na França nesta quarta-feira (5) após confessar sua disposição de “irritar” aqueles que não se vacinaram contra a covid-19, três meses antes das eleições presidenciais.
“Para os não vacinados, quero muito irritá-los. E vamos continuar fazendo isso, até o fim. Essa é a estratégia”, reconheceu Macron em entrevista ao jornal Le Parisien publicada na terça-feira.
O presidente liberal usou em francês o verbo “emmerder”, um termo coloquial incomum para um chefe de Estado e que pode ser traduzido por “incomodar”, “irritar” ou “complicar a vida”.
Suas declarações desencadearam uma tempestade na classe política, da esquerda radical à extrema direita, e alimentaram sua imagem de arrogante.
Contribuíram também para suspender novamente o debate na Assembleia Nacional, onde o governo tem maioria, sobre a aprovação de um passaporte de vacinação em substituição do atual passe de saúde.
O Executivo quer que a nova medida seja aplicada em meados de janeiro, em plena quinta onda de contágios. Nesta quarta-feira, foram registrados 335.000 novos casos em 24 horas, um recorde, anunciou o ministro da Saúde, Olivier Verán, diante dos deputados que debatem a medida.
Se aprovada, os maiores de 12 anos sem vacinação não poderão ir a restaurantes, museus, academias, cinemas ou utilizar certos transportes, mesmo que apresentem teste de diagnóstico negativo de menos de 24 horas.
“Não cabe ao presidente da República escolher entre os bons e os maus franceses”, comentou na CNews a candidata do partido de direita Os Republicanos Valérie Pécresse.
Pécresse, apontada em algumas pesquisas como a vencedora da eleição presidencial contra o atual presidente, também pediu aos franceses que “acabem com o mandato do menosprezo”.
Os representantes da estrema-direita, bem posicionados nas pesquisas, não hesitaram em atacar a “violência”, nas palavras de Marine Le Pen, do presidente, que busca “existir na campanha”, segundo outro aspirante a presidente, Éric Zemmour.
A candidata socialista, a prefeita de Paris Anne Hidalgo, e o comunista Fabien Roussel questionaram sua vontade de “unir” os franceses. O esquerdista Jean-Luc Mélenchon denunciou uma “confissão alucinante de Macron”.
Desde que assumiu o poder em 2017, este ex-banqueiro e ex-ministro de 44 anos tentou apagar sua imagem de político insolente próximo às elites, embora seu mandato seja salpicado de frases polêmicas.
Em entrevista concedida em dezembro, o presidente justificou essas polêmicas por sua “vontade de sacudir” o sistema, como quando garantiu que nas “estações de trem você encontra gente que fez sucesso e gente que não é nada”.
Suas declarações polêmicas sobre os pobres ou desempregados também serviram de catalisador durante as manifestações dos “coletes amarelos” entre 2018 e 2019 após um aumento no preço do combustível, mas que acabou se tornando um movimento de protesto muito mais amplo.
O cientista político Jérôme Fourquet comentou na rádio France Info sobre as últimas declarações que “uma parte das pessoas não vacinadas pode considerar como uma espécie de provocação ou como uma declaração de guerra”.
Ao Le Parisien, Macron explicou que mais de 90% dos franceses já foram vacinados, mas que ainda existe uma minoria contra. “Como reduzimos essa minoria? Reduzimos, desculpe dizê-lo, incomodando ainda mais”, acrescentou.
O presidente francês busca conter o novo pico de infecções antes de confirmar sua candidatura à reeleição, algo que seu círculo, como o ex-primeiro-ministro Edouard Philippe, considera certo, mas que o chefe de Estado reluta em anunciar.
Seu antecessor no cargo, o socialista François Hollande, desistiu em 2017 de disputar um segundo mandato, em um contexto de baixíssima popularidade. Hollande havia chegado ao Eliseu em 2012 depois de derrotar o presidente cessante, o conservador Nicolas Sarkozy.
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