31/01/2022 - 13:11
Por Roberto Samora e Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) -A safra de soja do Brasil 2021/22 sofreu novos cortes em decorrência da continuidade da estiagem no Sul em janeiro, disseram consultorias AgRural e AgResource nesta segunda-feira, e chuvas agora preocupam o andamento da colheita no Centro-Oeste, afirmaram especialistas.
Um patamar de produção no país abaixo de 130 milhões de toneladas, visto pelas duas consultorias, será o foco de precificação do mercado, que tem tendência de alta devido ao encolhimento da safra no maior produtor e exportador global da oleaginosa, acrescentou a AgResource Brasil, da empresa norte-americana AgResource Company.
A AgRural, por sua vez, alertou sobre preocupações relacionadas ao impacto de chuvas para o ritmo da colheita, que atingiu cerca de 10% até a semana passada. A umidade excessiva, aliás, já retardou “um pouco” a chegada da soja da safra nova aos portos de exportação neste mês.
Enquanto o Sul sofre com chuvas irregulares ou a ausência delas, as precipitações no Centro-Oeste evitaram que a colheita estivesse mais avançada após um plantio antecipado.
Novas chuvas previstas para esta semana indicam dificuldades para produtores tirarem a soja dos campos, especialmente para a região central do país.
“As chuvas da primeira quinzena de janeiro dificultaram o ‘start’ da colheita em Mato Grosso, que ganharam ritmo apenas nas últimas duas semanas. Na semana passada, de olho na previsão de chuva para essa semana, quem tinha soja pronta acelerou ao máximo os trabalhos para tirar antes das chuvas”, disse o analista Adriano Gomes, da AgRural.
Segundo ele, se as pancadas de chuvas ocorrerem de modo irregular, com intervalos de tempo aberto, “não deve haver maiores problemas para a colheita”.
Mas a tendência é de chuvas intermitentes sobre importantes áreas produtoras, segundo a Rural Clima.
“Não há sinais de que venham ocorrer dias consecutivos sem chuvas no Centro-Oeste”, disse o agrometeorologista Marco Antônio do Santos, que prevê “chuvas diárias”, em forma de pancadas ou “invernadas”.
Gomes, da AgRural, disse que o Sul vem recebendo chuvas, especialmente no oeste do Paraná, mas a umidade “chegou muito tarde” para evitar perdas.
“Favorece apenas os trabalhos com milho safrinha (plantio), que tem evoluído no mesmo ritmo que a soja sai do campo”, comentou.
Para o Rio Grande do Sul, chuvas esperadas para esta semana são “bem-vindas”, principalmente para a soja mais tardia. “Mas mesmo assim, as perdas estão consolidadas no Estado”, comentou o analista.
Até a última quinta-feira, 10,4% da área de soja estava colhida no Brasil, à frente dos 6,4% da média de cinco anos para o período, segundo dados da AgRural.
Por efeito da seca no Sul e também, em menor medida, por chuvas excessivas em Mato Grosso, a AgRural cortou para 128,5 milhões de toneladas a estimativa de safra do Brasil deste ano, ante 133,4 milhões de toneladas do início de janeiro.
A nova estimativa de produção representa queda de 8,8 milhões de toneladas na comparação com a safra passada e de 16,9 milhões em relação à produção potencial da atual safra, antes dos problemas climáticos.
A atual estimativa é baseada em área de 40,4 milhões de hectares e a produtividade em 52,9 sacas por hectare, a mais baixa desde 2015/16.
PREÇOS EM ALTA
A AgResource indicou nesta segunda-feira uma previsão de safra do Brasil ainda mais pessimista, apontando um volume de 125 milhões de toneladas, com recuo de 6 milhões de toneladas ante a projeção do início de janeiro.
Com isso, a expectativa é que os preços da oleaginosa continuem o movimento de alta. Na última semana, as cotações em Chicago subiram quase 5% no contrato de março, disse a consultoria.
“Agora, o mercado irá precificar os números abaixo dos 130 milhões de toneladas, trazendo as cotações para patamares superiores”, afirmou o diretor da AgResource Brasil, Raphael Mandarino.
A AgResource Brasil também realizou uma nova redução na safra de milho verão, que caiu de 23,75 milhões de toneladas na estimativa de janeiro para 19,91 milhões de toneladas, o que impactará a colheita total, agora estimada em 106,82 milhões de toneladas.
A consultoria também espera que algumas praças ajustem as cotações do cereal.
(Edição de Nayara Figueiredo)