No seu primeiro evento com a imprensa, um café da manhã com jornalistas, desde que assumiu a presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em janeiro, o empresário Josué Gomes, revelou suas preocupações com as questões sociais, ambientais e, do ponto de vista da economia, com o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a perda de dinamismo da indústria da transformação por conta da estrutura tributária do País. E de acordo com o executivo, o baixo crescimento da economia brasileira tem uma relação estreita com a perda de dinamismo da indústria, especialmente a da transformação, nas últimas quatro décadas.

“Nas últimas quatro décadas, a indústria perdeu três”, lamentou o presidente da Fiesp, para quem o setor, que emprega mão de obra de qualidade e com uma média de salários superior à de outros segmentos, tem por obrigação ajudar a reverter a crise social que se abate sobre o País. “Meu escritório é aqui perto da Fiesp. Deixo meu carro lá e venho a pé e vejo famílias morando na rua da cidade mais rica do Estado mais rico em plena Avenida Paulista. Não podemos achar que isso é normal”, indignou-se o presidente da Fiesp, acrescentando que entre as várias metas dos quatro anos de sua gestão é liderar a indústria a investir em educação e geração de empregos com bons salários para as pessoas.

Estrutura tributária

Gomes disse também que a perda de dinamismo da indústria está estreitamente ligada à estrutura tributária do País, que viu no setor facilidade para tributar. Afirmou que a alíquota de imposto incidente sobre a indústria é de 27% e que a Fiesp, nos seus quatro anos de gestão, vai apoiar e trabalhar pela aprovação de uma reforma tributária.

O empresário disse ainda que o Brasil e seus governantes precisam entender que redução de impostos não quer dizer que haverá carga de arrecadação. Parafraseou, inclusive o economista americano Arthur Laffer, que dizia que a instituição de alíquotas de imposto zero geram zero de arrecadação e que alíquotas de imposto de 100% também geram arrecadação zero na medida que as pessoas deixam de pagar seus impostos.

“Reduzir impostos para a indústria não implica em aumentar impostos para outros setores da economia. Mas temos que desatar o nó górdio da nossa estrutura tributária”, ponderou Josué Gomes.

Papel do setor

Por outro lado, segundo ele, o momento da indústria chegou e o mundo inteiro está debatendo o papel do setor no crescimento econômico.

E o Brasil, segundo Josué, tem que debater a “reindustrialização” do País.

Metas

O presidente da Fiesp disse ainda que uma das metas dos seus quatro anos de gestão, iniciados em janeiro, é colocar a entidade para ajudar cerca de 40 mil pequenas indústrias no Estado de São Paulo a elevar a produtividade e a se digitalizar.

Não citou valores, mas disse que a Fiesp e seus associados estão investindo alto neste projeto e prometeu, dentro da linha de transparência que pretende colocar em prática na instituição, trazer regularmente informações para a sociedade sobre o avanços do projeto que envolverá as demais entidades ligadas à indústria (Sesi e Senai) para formar profissionais qualificados.

Economia verde

Gomes também fez menção à responsabilidade que o setor deve ter com o desenvolvimento da economia verde. Para ele, o Brasil tem condições de não apenas contribuir, mas de liderar o processo da economia verde no mundo.

Aproveitando para prestar solidariedade das vítimas da tragédia climática em Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro, o presidente da Fiesp destacou que a tragédia não se deu apenas porque as pessoas ali envolvidas vivem e moram em regiões e casas irregulares, mas porque está havendo mudanças no clima que muitos negam estarem ocorrendo.

“Não podemos ser negacionistas com relação às mudanças climáticas”, disse o executivo, sempre ressaltando a importância da indústria contribuir para tentar mudar o curso das transformações climáticas.

Ciclo de aperto monetário

O presidente da Fiesp afirmou ainda entender o processo elevação da taxa básica de juro, a Selic, para fazer frente à inflação que, recorrentemente, afeta sempre a população de menor renda. Ele disse acreditar que os juros vão dar algum alívio para a pressão inflacionária, mas ponderou que o atual ciclo de aperto monetário não é a medicação correta para atacar a atual inflação, que deriva mais de custos que de demanda.

“Os juros tratam a doença da inflação, mas não é a medicação correta para a inflação que temos agora. Não é o juro brasileiro que vai conter uma inflação de commodities, de custos”, preveniu o presidente da Fiesp, para quem a solução do problema passa por uma reforma tributária que reduza impostos e por uma diminuição do tamanho dos custos do Estado.