27/02/2022 - 19:10
O governo alemão destinará mais de 2% de seu PIB, anualmente, para a defesa. O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, anunciou neste domingo (27/02) um investimento de 100 bilhões de euros para modernizar as Forças Armadas Alemãs (Bundeswehr) e um repasse anual de mais de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa nacional.
Em um discurso no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), em uma sessão extraordinária para discutir a guerra na Ucrânia, Scholz enfatizou a necessidade de contar com uma Bundeswehr “eficiente, avançada e de ponta” para proteger o país, entre outras ameaças, da Rússia de Vladimir Putin.
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“Melhores equipamentos, equipamentos modernos, mais pessoas, isso custa muito dinheiro”, reconheceu, acrescentando, porém, que isso é algo possível para um país do tamanho e da importância da Alemanha na Europa. Para Scholz, o país deve investir mais em sua segurança para proteger a liberdade e a democracia.
Segundo o chanceler, diante desta “mudança de época” provocada pela agressão de Putin, “tudo o que for necessário para garantir a paz na Europa” será feito – e a Alemanha será solidária em sua contribuição. Para isso, no entanto, a Bundeswehr precisa de “novas e importantes capacidades”, declarou Scholz.
Mudança de postura
A guerra na Ucrânia está levando o governo alemão a repensar sua política externa e de segurança. Scholz já havia revisado posições centrais no sábado. Depois de um logo período de negativas, a Alemanha finalmente concordou em enviar armamento letal à Ucrânia – incluindo 1.000 armas antitanque e 500 mísseis terra-ar do estoque da Bundeswehr. “Não poderia haver outra resposta à agressão de Putin”, enfatizou o chanceler federal.
Além disso, Berlim permitiu neste sábado que a Holanda enviasse à Ucrânia 400 bazucas e que a Estônia fornecesse a Kiev peças de artilharia do estoque da antiga Alemanha Oriental, que por acordos contratuais, exigiam a aprovação da Alemanha antes de serem repassadas.
As medidas revertem um princípio de longa data adotado pela Alemanha. Durante anos, Berlim se recusou a exportar armas para zonas de guerra ou permitir que países terceiros enviassem armas fabricadas na Alemanha para áreas de conflito. A política está enraizada na história da Alemanha como agressora durante a Segunda Guerra Mundial.
Ao anunciar a reversão da política no sábado, Scholz disse que a “invasão russa da Ucrânia marca um ponto de virada”.
Scholz afirmou que o presidente russo quer “criar uma nova ordem na Europa e não tem escrúpulos em usar capacidades militares para alcançá-la”.
“Nunca nos resignaremos à violência como meio de política. Não descansaremos até que a paz seja assegurada na Europa”, escreveu no Twitter.
Há tempos, a Alemanha vinha sendo criticada por sua postura de não permitir o envio de armas. Outros países da OTAN, incluindo o Reino Unido e os EUA, já haviam fornecido armas à Ucrânia nas últimas semanas.
UE enviará armas à Ucrânia
Também neste domingo, a União Europeia (UE), com o apoio da Alemanha, concordou em conceder 450 milhões de euros para financiar o fornecimento de equipamento militar letal à Ucrânia, e outros 50 milhões de euros para equipamento não letal, como combustível e equipamento de proteção. O anúncio foi feito pelo alto representante de Política Externa da UE, Josep Borrell, em entrevista coletiva.
Borrell explicou que esse montante será coberto pelo Fundo Europeu para a Paz e pelo fundo intergovernamental, que conta com 5 bilhões de euros para usar entre 2021 e 2027 e é financiado pelos Estados-membros, não pelo orçamento da UE.
O chefe da diplomacia europeia salientou que esta é “a primeira vez na história” que a UE vai financiar conjuntamente este tipo de equipamento, para o que “todos concordaram ou, pelo menos, não obstruíram esta decisão”.
Borrell também disse que a Polônia, país que faz fronteira com a Ucrânia, se ofereceu como centro logístico para montar o equipamento antes de sua entrega aos ucranianos, e acrescentou que, nesta segunda-feira, os ministros de Defesa do bloco se reunirão para discutir os detalhes.
Quando questionado se a ativação das equipes de contenção nuclear da Rússia diante das sanções que o Ocidente lhe impõe atrapalha os planos dos europeus, Borrell respondeu que “todos estão cientes dessa ameaça, mas isso não nos impede de fazer o que tem de ser feito”.
“A UE é um projeto de paz e queremos continuar a lutar pela paz na Europa”, completou.
le (efe, ots)