07/12/2005 - 8:00
No 58º andar da sede do Bank of America, um imponente espigão envidraçado no centro de Charlotte, Carolina do Norte, nove salas de reuniões foram batizadas com nomes de cidades importantes para a operação mundial do banco. Seis delas remetem a metrópoles americanas. Recentemente uma das outras recebeu uma plaquinha na porta com o nome São Paulo. ?Você acha que eles fariam essa homenagem se estivessem pensando em sair do Brasil??, pergunta Geraldo Carbone, presidente do BankBoston, o braço do Bank of America no mercado brasileiro.
A pergunta serve, na verdade, como resposta bem-humorada a uma questão recorrente nos últimos dois anos: o Brasil está nos planos do Bank of America? O bancão, um gigante com ativos de US$ 1,1 trilhão e lucro de US$ 16 bilhões, manterá e expandirá suas atividades por aqui? Essas dúvidas surgiram em novembro de 2003, quando o Bank of America, ou BofA, como é chamado nos Estados Unidos, adquiriu o Fleet, então controlador do Boston.
Carbone sempre negou a possibilidade do BofA se despedir do País. Sem sucesso. ?Ninguém dava ouvidos ao que nós do Boston falávamos. Sempre explicamos que a internacionalização era um caminho mandatório para o BofA, pois não havia mais espaço para seu crescimento dentro dos Estados Unidos?, diz ele. ?E não é possível falar em internacionalização sem falar em Brasil.? O problema é que se tratava de uma argumentação com muita lógica e poucos fatos. Mas agora, as coisas parecem diferentes. O Boston desenhou (e está implantando) um plano de expansão no mercado brasileiro. Orçado em US$ 25 milhões, ele se sustenta em três pilares. Num deles, pretende aumentar sua participação no atendimento a pessoas físicas de alta renda. O banco possui entre 14% e 15% desse mercado. Quer chegar a 23%. A principal arma para conquistar mais clientes endinheirados é o aumento na base de 65 agências. De 2004 para cá, já foram inaugurados 38 novos endereços. Até o final do primeiro trimestre do próximo ano, serão mais 12. ?A vida do Boston não será fácil, não?, afirma Carlos Coradi, presidente da EFC, consultoria na área financeira. Para ele, mesmo com o foco voltado apenas para esse segmento, o banco não escapará da concorrência. ?Nos últimos anos, os grandes grupos financeiros começaram a avançar sobre os correntistas de alta renda, criando estruturas VIP para atendê-los.? O Bradesco, por exemplo, tem o Prime. O Unibanco, o Uniclass e o ABN, a divisão Van Gogh.
O segundo pilar é o que Carbone chama de Boston Business, uma área voltada para pequenas e médias empresas. Só neste ano, já foram abertos 11 pontos de atendimento exclusivos para esse segmento. Para 2006, estão previstos outros 20. Cada um deles possui um gerente-geral, seis gerentes de contas e dois assistentes. Hoje, o Boston possui uma carteira 14 mil companhias desse porte, o que significa 11% do universo. A meta é atingir 22%. Juntas, elas geraram receitas de R$ 186,4 milhões no primeiro semestre de 2005, o que corresponde a 70% do faturamento de todo o ano anterior. ?Queremos dobrar nossa presença nesse nicho?, afirma Carbone. ?Temos muito espaço para crescer.? Não é o que acontece no terceiro pilar do tripé de expansão do Boston, o de grandes empresas. Segundo o próprio banco, 80% das companhias com faturamento superior a R$ 500 milhões fazem algum tipo de negócio com o Boston. ?Somos um banco equilibrado?, diz Carbone. ?O que o BofA quer é justamente uma operação local diversificada e com resultado estável. Cada um dos três segmentos em que atuamos representa um terço de nossas receitas.?
No mercado, porém, poucos acreditam que esse seja o limite do BofA em território brasileiro. ?O ponto fraco do Boston é seu próprio tamanho?, afirma Alberto Borges Matias, sócio da AMB Consulting, especializada no setor financeiro. ?Para o setor bancário brasileiro, é pequeno.? Para Matias, o BofA planeja disputar espaço no varejo brasileiro. Mas ressalva que o Boston não pode usar sua marca para entrar numa faixa de renda mais popular, sob pena de desvalorizá-la. As opções seriam trazer a marca Bank of America para cá ou comprar um banco de varejo aqui. Eis um assunto que Carbone evita. ?Há um memorando assinado por Kenneth Lewis (presidente mundial do BofA) afirmando que só há uma pessoa autorizada a falar sobre fusões e aquisições. O nome dessa pessoa é Kenneth Lewis?, diz Carbone. ?Com nosso plano de investimentos, já tenho diversão para os próximos quatro anos.? Os analistas acham pouco. ?Esse investimento é pífio para um banco de US$ 1 trilhão. Só serve para sinalizar que ficará no Brasil?, diz João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho.
Essa sinalização é um tremendo avanço para Carbone. Nos meses seguintes à aquisição pelo BofA, ele dedicou boa parte de sua energia a manter um ambiente tranqüilo dentro dos escritórios e agências, diante das constantes notícias de que o banco poderia ser vendido. ?O mais importante na hora de enfrentar a boataria é manter a motivação e o comprometimento dos funcionários?, diz ele. Sua trajetória de 14 anos no Boston ajudou nessa tarefa. Ao longo desse período, o Boston passou por três trocas de controle acionário. ?Em nenhuma dessas ocasiões, houve mudanças no banco no Brasil?, diz ele. ?Até hoje não temos sequer um expatriado aqui. Estamos no País desde 1947 e nossos resultados mostram que conhecemos o mercado local como poucos.?