05/03/2022 - 8:16
A invasão da Ucrânia pela Rússia e as sanções econômicas impostas pelas principais economias do mundo aos russos ligaram o alerta para mais uma crise mundial.
Com recorde nas cotações do barril do petróleo registrado nesta semana – a Rússia é grande produtora e exportadora -, há a perspectiva de que as nações tenham de enfrentar um aumento ainda maior nas taxas de inflação, que hoje já são pressionadas em muitos países justamente pelo preço dos combustíveis.
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No Brasil, o conflito deverá produzir impactos na atividade econômica e na inflação por meio de diferentes canais, como elevação dos preços das commodities, aumento da taxa de juros, falta de insumos e desvalorização do câmbio, avaliam economistas. A intensidade desses efeitos, porém, permanece difícil de ser medida diante da incerteza da duração da guerra.
Preços
O impacto mais imediato da guerra é nos preços das commodities. Petróleo e alguns alimentos (como trigo, milho e proteínas) iniciaram um movimento de forte alta após o início da ofensiva russa. A tendência é de que essas cotações nas alturas sejam repassadas aos consumidores e, como consequência, pressionem a inflação. O economista Sérgio Vale, da MB Associados, revisou para cima sua expectativa para o IPCA, a inflação oficial do País, de 5,8% para 6,5% em 2022. “Creio que a disputa entre Rússia e Ocidente vai continuar tensa e isso tende a manter preços de commodities pressionados”, afirmou Vale.
Juros
Uma inflação persistente pode levar a taxa básica de juros, a Selic, para níveis mais altos. A MB Associados, por exemplo, elevou sua previsão de Selic de 12,25% para 13% em 2022. Além disso, os mercados viviam a perspectiva de aperto na política monetária americana. Com a guerra, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) pode ser ainda “mais agressivo” para esfriar a economia, disse Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. “Se a crise ficar fora do controle e o Fed tiver que dar cavalo de pau, o cenário pode ficar pior para emergentes”, afirmou a economista da Tendências.
Insumos
Um conflito mais duradouro deve pressionar os setores industriais que dependem de insumos importados. São cadeias produtivas que já vinham desorganizadas por causa da pandemia. O agronegócio também pode ser afetado, por depender de componentes (como o potássio) produzidos na Rússia e Belarus para produção de fertilizantes. Ricardo Jacomassi, sócio e economista-chefe da TCP Partners, diz acreditar que os impactos da guerra podem retirar de 0,3 a 0,5 ponto porcentual do PIB de 2022. “Praticamente todo o mercado já está precificando o conflito”, afirmou.
Agronegócio
O agronegócio pode ser diretamente afetado pelo conflito, por depender de componentes usados em fertilizantes. O acesso a esse insumo estaria resolvido para o plantio da safra atual das principais culturas da agricultura brasileira, como a soja e o milho. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, já disse que o Brasil tem estoque suficiente de fertilizantes até o início do plantio da próxima safra, em outubro. Por sua vez, a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) estimou a duração dos estoques em três meses. Para Borges, um aumento nos custos com a compra de fertilizantes é dado como certo, mas se o conflito entre Rússia e Ucrânia se prolongar pode levar à escassez do insumo. No Brasil, problemas relacionados à safra podem ter efeitos sobre a atividade econômica até 2023.
Câmbio
A valorização das commodities poderá ser amenizada pela queda da cotação do dólar, movimento iniciado desde o começo do ano, uma vez que o Brasil é exportador de muitas dessas matérias-primas. “Com esse câmbio (em queda), sem guerra, talvez a inflação ficasse na casa dos 5%”, afirmou Ribeiro, da Tendências. No entanto, a escalada da tensão geopolítica torna mais difícil prever qual caminho o câmbio seguirá nos próximos meses.
Economia global
A guerra na Ucrânia poderá causar recessão na economia global, segundo Bráulio Borges, da LCA Consultores, se a experiência com a primeira Guerra do Golfo se repetir. Após o Iraque invadir o Kwait, em 1990, os Estados Unidos entraram no conflito, em 1991. As cotações do petróleo subiram, houve uma recessão “breve e modesta”, entre o fim de 1991 e o inicio de 1991, disse Borges. A participação americana no conflito durou em torno de dois meses.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.