05/03/2022 - 9:08
Juros baixos e demanda reprimida fizeram com que a construção civil se tornasse a locomotiva da economia brasileira em 2021. É verdade que foi uma locomotiva de um trem lento e pesado, mas não deixou de ser fundamental. Graças à alta de 9,7% no ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 4,6% na comparação com 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Há dois fatores a serem considerados. O primeiro, de que a fuga de aplicações da renda fixa para ativos mais seguros levou investidores a construir mais – seja para aluguel ou venda. Vale relembrar que o ano começou com a taxa básica de juros em 2% ao ano (que tornou a renda fixa em perda fixa, num cenário de inflação nas alturas), e cruzou o Réveillon em 9,5%. O segundo, é que a base de comparação é baixa. Nocauteada pela pandemia, o mercado da construção encolheu 2,8% em 2020.
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A indústria, também derrubada pela Covid e pela crise hídrica em 2020, com fábricas fechadas e vendas em forte queda, conseguiu reagir em 2021 e crescer 4,5%. O setor de serviços, o mais importante na geração de empregos, teve expansão de 4,7% no ano. Até mesmo o agronegócio, grande estrela da atividade econômica há anos, ficou para trás e encolheu 0,2% no acumulado de janeiro a dezembro.
Sem olhar apenas pelo espelho retrovisor, pode-se concluir que a construção civil que salvou a economia em 2021 não vai salvar em 2022. Isso porque o fator determinante para esse bom desempenho, a taxa básica de juros, está em 10,75% e deve permanecer acima de dois dígitos por uns dois ou três anos, na melhor das hipóteses.
O começo de 2022 é um prenuncio do arrefecimento do setor. Em janeiro, os financiamentos imobiliários com recursos da poupança tiveram queda de 13,1% em relação a dezembro de 2021, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). A entidade afirma que 60,4 mil imóveis foram financiados em janeiro de 2022 nas modalidades de aquisição e construção, resultado 6,7% menor do que o registrado em dezembro do ano passado.
Infelizmente, o amargo remédio do Banco Central para conter a inflação vai puxar para baixo uma das mais importantes atividades geradoras de renda e emprego. Parte do dinheiro que irrigou a proliferação dos imóveis vai voltar para a renda fixa e para opções mais rentáveis no curto prazo. Se a economia não encontrar suas novas locomotivas, o PIB em 2022 – num cenário ainda de pandemia e com o agravante da guerra na Ucrânia – tem tudo para ser um fiasco.