06/03/2022 - 7:40
A economia brasileira voltou a crescer em 2021, como mostrou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) na sexta-feira (4). O avanço do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 4,6% em comparação com o ano anterior. O número é bom, segundo analistas dos bancos. Mas é suficiente para indicar uma retomada? Nem tanto, dizem eles. O ano de 2021 foi marcado pelo aumento da vacinação dos brasileiros e da recuperação da atividade, fortemente abalada pela pandemia de Covid-19 em 2020.
Mas também foi o ano da volta dos aumentos dos juros para a casa das 10,75% e da inflação para 10%. Os dois velhos conhecidos dos brasileiros acabam por pressionar ainda mais a renda da população. Além disso, os especialistas de bancos e corretoras frisam que o desemprego não recuou, mantendo-se em 13,2% no último ano. Todos esses ingredientes não ajudam a pensar em uma recuperação de fato para 2022.
+ PIB do Brasil cresce 4,6% em 2021, após tombo em 2020
O ano até vinha bem. Nos mercados financeiros, os investidores estrangeiros invadiram a nossa praia. O fluxo de investidor internacional na bolsa até fevereiro representou 90% do que se observou em todo o ano de 2021, segundo a economista chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. “Para a bolsa, o que chamou atenção foram as commodities. Já a taxa de 10,75% dos juros atraiu o capital para a renda fixa”, afirmou. Tudo isso junto e misturado ajudou a inundar o mercado com dólar, derrubando a cotação da moeda norte-americana para R$ 5 em fevereiro. “Mas esse é um dinheiro que vem e vai de forma rápida, de acordo com a percepção de risco do Brasil”.
O aumento da tensão internacional, provocado pela invasão da Rússia à Ucrânia, somado ao processo eleitoral que se aproxima no Brasil, nublam bastante o cenário econômico. “Todo mundo está tentando prever como o conflito vai influenciar atividade econômica, mas ainda é muito cedo para saber”, disse. O aumento dos preços das commodities e de energia dão a certeza de que a inflação continuará forte, não só no Brasil como em todo o mundo. Nos Estados Unidos, a alta de preços só em janeiro bateu a casa dos 7,5%, maior aumento em 40 anos. Agora, as expectativas se voltam para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), para saber quais medidas serão tomadas para tentar frear a inflação. Se elevar os juros, o caminho mais direto para controle de inflação, o capital especulativo pode começar a voltar para lá.
“Por aqui, nós tentaremos detectar o impacto que a desaceleração da economia europeia, estreitamente ligada à nossa economia, vai provocar na nossa balança comercial”, disse Camila. Para a economista, as dificuldades da economia russa podem não afetar tanto o Brasil, apesar do agronegócio enfrentar problemas com a falta de fertilizantes. “Mas de fato, nossos grandes parceiros comerciais são Estados Unidos e China”.