07/03/2022 - 17:52
Militares e moradores ucranianos que fugiram do noroeste de Kiev nesta segunda-feira(7) descreveram combates de rua e “corpo a corpo” que em breve podem se espalhar para a capital sitiada da Ucrânia.
“Agora há uma verdadeira luta de rua”, disse à AFP um tenente paraquedista ucraniano que concordou em ser identificado como Stas na cidade de Irpin, no 12º dia desde a invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Em alguns lugares há luta corpo a corpo”, disse Stas. “Há uma fileira enorme, 200 homens, 50 blindados leves, vários tanques”, explicou.
“Estamos tentando expulsá-los, mas não sei se seremos totalmente capazes de fazê-lo. A situação é muito instável.”
– Forças especiais –
A cidade industrial de Irpin é o último ponto de resistência das forças ucranianas contra o ataque russo a Kiev. A ofensiva russa começou em 24 de fevereiro com ataques de mísseis e uma implantação de paraquedistas em Gostomel, o subúrbio mais distante de Kiev.
Soldados ucranianos repeliram o impulso inicial e destruíram alguns dos primeiros veículos blindados russos. Mas os russos enviaram reforços de Belarus que chegaram no início da semana passada.
Desde então, o ataque vem ganhando força. As forças terrestres russas tomaram várias áreas ao redor de Gostomel e usaram bombardeios implacáveis para chegar mais ao sul, até a cidade de Bucha.
“Na sexta-feira de manhã, havia uma bandeira ucraniana sobre Bucha, e então as equipes russas começaram a chegar”, disse Vitaliy Shichko, um morador.
– “Esperança” –
Grande parte de Bucha está agora em ruínas. A cidade continua a ser bombardeada e uma fumaça escura paira sobre seu horizonte.
Moradores e soldados ucranianos disseram à AFP que quase todo mundo forte o suficiente para andar já fugiu.
“Os idosos ou aqueles que não podem usar os pés ficam”, disse Marina Manfyorova, moradora, enquanto se apressava em direção aos ônibus de evacuação que esperavam no lado de Kiev do rio que separa Irpin da capital ucraniana.
“Eles ainda têm esperança de serem salvos.”
A ofensiva russa em Irpin começou com um bombardeio que levou uma primeira grande onda de moradores fugir no sábado.
Na segunda-feira, tanques e veículos blindados russos se moviam a menos de dois quilômetros dos limites de Kiev.
– Franco-atiradores –
Várias testemunhas disseram que os russos colocaram franco-atiradores em um quarteirão de arranha-céus com vista para as ruas desertas e campos de lama pelos quais os moradores fugiam em direção a Kiev.
“Há um franco-atirador naquele prédio azul”, disse Oleksiy Cherikalov, um soldado.
O militar de 40 anos tirou um dia de folga para evacuar sua própria família de Irpin. Mesmo como soldado, ele ficou impressionado com a escala da violência aparentemente aleatória.
“Aquele atirador atirou contra nós o dia todo”, disse ele.
Outras testemunhas e soldados disseram que os russos forçaram algumas pessoas a deixarem suas casas para montar novos postos de tiro.
“Os russos estão se posicionando em prédios residenciais, apartamentos, lojas”, disse Konstantyn Lokhmitskiy, um soldado de 38 anos.
“Então eles começaram a atirar exclusivamente em civis”, disse ele.
“Eu lutei também. Esta é minha terceira guerra. Mas isso não costumava acontecer”, disse Lokhmitsky.
“Ninguém atirava em civis naquela época.”