11/03/2022 - 16:39
O anúncio de que a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) começaria uma paralisação contra o aumento no preço dos combustíveis já nesta sexta-feira (11) pegou de surpresa outras entidades de classe dos caminhoneiros. O posicionamento da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), por exemplo, é de aguardar as negociações sobre o frete para decidir algum posicionamento mais concreto em relação a uma eventual greve.
A Petrobras anunciou nesta quinta-feira (10) um reajuste no preço da gasolina (18,8%), diesel (24,9%) e gás de cozinha (16%). Contudo, mobilizações que reúnem milhares de caminhoneiros em todo o Brasil não costumam ocorrer em 24 horas: as entidades sabem dos transtornos causados por uma greve, que seria o último recurso e a concretização da falha nas negociações com as empresas.
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O preço da gasolina e do diesel já disparou nos postos de gasolina nas últimas horas, mas são poucas as empresas que aceitam repassar o valor ao frete. Fontes dizem que algumas empresas aceitaram repassar porcentagens mínimas ao custo do frete; outras recusam-se a pagar mais aos caminhoneiros pelo transporte.
Uma das principais lideranças caminhoneiras da greve de 2018 que parou o País, Wallace Landim “Chorão”, presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), tem evitado responder diretamente sobre paralisações. Em entrevista ao Estado de São Paulo, Chorão disse que a greve pode ocorrer de maneira natural, mas não orquestrada – como é o caso da CNTA.
Com o aumento dos custos e o não repasse ao frete, as viagens podem se tornar inviáveis economicamente – “ninguém vai trabalhar no prejuízo”, segundo Chorão.
Contudo, ainda é cedo para cravar uma greve geral dos caminhoneiros no Brasil – embora a possibilidade exista e possa materializar-se nos próximos dias.
“Não terá outra solução a não ser encostar o caminhão. Possibilidades (de paralisações) sempre existem por conta da insatisfação generalizada. Mas a insatisfação não é só do caminhoneiro, tem que ser de toda a população brasileira”, afirmou Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da CNTTL.
Críticas à Petrobras
As entidades de caminhoneiros são descentralizadas e com diversas lideranças. Em comum, a crítica à política de Paridade de Preços Internacionais (PPI) adotada pela Petrobras desde o governo Michel Temer (MDB).
A PPI faz com que o preço dos combustíveis no Brasil seja adotado conforme o preço do barril de petróleo no mercado internacional. Assim, com a invasão russa sobre a Ucrânia, o petróleo disparou nos últimos dias, e a Petrobras realizou um reajuste nos preços dos combustíveis depois de 57 dias.
Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Petróleo (Abicom), a Petrobras ainda segura uma defasagem nos preços nacionais dos combustíveis em relação ao mercado financeiro global. A defasagem no preço da gasolina, que era de 20%, caiu para 8% com os aumentos. O Diesel, de 24% para 9%. Ou seja: muito provavelmente haverá novos reajustes.
“Enquanto a política do Governo Federal mantiver o PPI, não adiantará retirar/diminuir impostos federais e o ICMS do combustível. Continuaremos reféns do mercado financeiro com a variação do dólar somado ao preço do barril de petróleo e, como consequência, esfolaremos os brasileiros que não irão mais conseguir comprar nem gás de cozinha, nem abastecer o carro, ou caminhão, para trabalhar”, declarou a Abrava em nota.
O Senado aprovou, com urgência nesta quinta (11), dois Projetos de Lei visando à redução no preço dos combustíveis. O PL 1.472/2021 cria um fundo de estabilização dos preços de combustíveis, o que, na prática, seria um subsídio do Estado. Haveria, ainda, a criação de um auxílio-gasolina às famílias de baixa renda. Este projeto deve ser sancionado ainda nesta sexta (11) pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), após aprovação relâmpago, na madrugada desta sexta, na Câmara dos Deputados.