18/03/2022 - 8:00
A guerra na Ucrânia, uma nova variante da Covid, o desemprego, as eleições, a inflação. Não está fácil a vida do brasileiro em 2022. Nesse mar de tensões dentro e fora do País alguns reflexos começam a ser sentidos nos dois extremos da pirâmide social. Entre os empresários, um claro pé no freio. Entre a população o receio crescente com o andamento da economia. E esses dois comportamentos foram relatados ontem (17). Em janeiro, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), feito pelo Banco Central, mostrou que o PIB já desandou após três altas consecutivas, e encolheu 0,99% ante a dezembro. Na mesma toada, uma pesquisa da Quaest/Genial apontou que o número de brasileiros preocupados com a economia saltou 16 pontos percentuais e foi de 35% para 51% em março.
Segundo a pesquisa que mede o humor do brasileiro, essa foi a primeira vez que a preocupação com a saúde superou o temor com a economia, em um momento em que o avanço da vacinação contra a Covid avança nos estados. A mudança do comportamento também envolve moral. Em 2018 quase um terço dos entrevistados colocam a corrupção como um dos maiores problemas do país. Hoje esse indicador recuou para 11%. A tendência é que o debate político que começa agora e terá fim nas urnas em outubro seja ainda mais recheado de questões econômicas, exigindo dos candidatos à presidência e governos estaduais atenção redobrada com propostas e soluções para a economia.
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E se o brasileiro teme o futuro, os donos do dinheiro já sentiram os problemas e estão recalculando rotas. A divulgação do IBC-Br, que funciona como um termômetro do PIB, foi bem pior do que a expectativa do mercado, que apontava uma baixa entre 0,25% e 0,5%. O resultado foi o primeiro negativo desde setembro do ano passado e caracteriza a mais forte contração desde março de 2021 (-1,67%). Na comparação entre janeiro deste ano e do ano passado, o PIB andou de lado, crescendo 0,01%.
Mas essa queda já era anunciada. A indústria e os serviços já haviam apresentado um arrefecimento da atividade no primeiro mês do ano, enquanto o comércio, apesar de ter crescido, ainda tenta se recuperar dos baques sentidos na pandemia. Segundo Felipe Sichel, estrategista-chefe do Modalmais, mesmo com a indicação negativa em janeiro, o banco digital segue com a previsão de crescimento de 0,4% do PIB no primeiro trimestre e de 0,5% em 2022. “A perspectiva para a atividade econômica, no entanto, é bastante desafiadora”, afirmou. No entendimento da equipe econômica do banco, os apertos das condições monetárias e financeiras, a inflação alta, o menor crescimento global e os desdobramentos da guerra é o que tem tirado o sono do mercado financeiro. E da população também.