O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, denunciou neste domingo (20) um novo “ato de terror” após o bombardeio de uma escola em Mariupol, mas também se mostrou disposto a negociar com Vladimir Putin para acabar com os ataques da Rússia, que voltou a usar um míssil hipersônico.

Os bombardeios, em particular na cidade portuária sitiada de Mariupol (sudeste), cujas ruas estão, segundo testemunhas, repletas de cadáveres, ocorrem em um momento de dificuldades nas negociações, embora a Turquia tenha dito neste domingo que as partes estavam “próximas de um acordo”.

Em entrevista à rede americana CNN, Zelensky expressou sua vontade de negociar com o líder russo. “Estou pronto há dois anos e acredito que sem negociações não conseguiremos dar fim à guerra”, disse ele.

Anteriormente, ele havia denunciado o bombardeio da escola de arte de Mariupol, destruída por ataques russos enquanto 400 pessoas, entre elas mulheres, crianças e idosos, se refugiavam lá dentro, segundo autoridades locais.

– “Ato de Terror” –

“O prédio foi destruído e as pessoas ainda estão sob os escombros. O número de mortos ainda está sendo esclarecido”, afirmaram autoridades municipais. Esta informação ainda não pôde ser verificada.

Infligir “algo assim a uma cidade pacífica (…) é um ato de terror”, declarou Zelensky, apontando um “crime de guerra”.

O cônsul-geral da Grécia em Mariupol, Manolis Androulakis, o último diplomata europeu remanescente, disse em seu retorno a Atenas que a cidade sitiada “se juntará à lista de cidades do mundo completamente destruídas pela guerra, como Guernica, Stalingrado, Grozny e Aleppo”.

Em Kiev, um projétil explodiu em frente a um edifício neste domingo, ferindo pelo menos cinco pessoas, duas das quais foram hospitalizadas, segundo o prefeito Vitali Klichko.

O prédio de 10 andares está seriamente danificado e todas as suas janelas foram quebradas, de acordo com jornalistas da AFP no local.

Três pessoas também ficaram feridas neste domingo em um ataque aéreo no oeste de Jitomir, onde os ataques de sexta-feira a um quartel deixaram dezenas de mortos.

– Sem avanços no front –

Apesar disso, as autoridades ucranianas relataram uma certa calma no front neste domingo.

“O front está praticamente congelado”, não houve “praticamente nenhum ataque com mísseis às cidades” e “a aviação russa praticamente não está ativa”, com apenas “ações táticas” de ambos os lados, disse Oleksiy Arestovich, assessor da presidência ucraniana.

O Ministério da Defesa da Rússia, que diz não ter civis ou áreas residenciais como alvo, alegou ter destruído um depósito de combustível na região de Mikolaiv (sul) com “mísseis de cruzeiro Kalibr disparados do mar Cáspio, além de mísseis balísticos hipersônicos disparados pelo sistema aeronáutico Kinjal do espaço aéreo da Crimeia”.

Esses mísseis pertencem a uma família de armas “invencíveis” de nova geração, segundo Putin.

Com o uso de tais armas, a Rússia “tenta recuperar o impulso” em um conflito em que seu exército sofre dificuldades, apontou o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, afirmando que essas armas “não mudam o jogo”.

– 10 milhões fugiram –

Enquanto isso, a situação humanitária segue piorando. “A guerra na Ucrânia é tão devastadora que 10 milhões de pessoas fugiram, seja como deslocados dentro do país ou como refugiados no exterior”, disse o chefe do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Filippo Grandi, neste domingo.

A situação humanitária em Mariupol, como em outras cidades sitiadas, é dramática. Algumas famílias contaram ter visto corpos nas ruas por dias e que passaram fome e sede em noites de frio intenso dentro de porões.

Os bombardeios também danificaram severamente a usina siderúrgica e metalúrgica de Azovstal, localizada nesta cidade portuária e industrial crucial para as exportações de aço do leste do país.

“Uma das maiores usinas metalúrgicas da Europa foi destruída. As perdas econômicas para a Ucrânia são imensas”, afirmou a deputada Lesia Vasylenko.

– “Catástrofe humanitária absoluta” –

No norte do país, o prefeito de Chernigov, Vladislav Atroshenko, descreveu a situação em sua cidade como uma “catástrofe humanitária absoluta”.

“Segue o fogo de artilharia indiscriminado em áreas residenciais, morrem dezenas de civis, crianças e mulheres”, disse ele na televisão. “Não há eletricidade, aquecimento ou água, a infraestrutura da cidade está completamente destruída.”

Os ataques não pararam nos últimos dias na capital, Kiev, em Mikolaiv e em Kharkiv, uma grande cidade russófona no noroeste, onde pelo menos 500 pessoas foram mortas desde o início da guerra, segundo dados oficiais ucranianos.

Para o Ministério da Defesa do Reino Unido, a Rússia “não conseguiu obter o controle do espaço aéreo e depende fortemente de armas de longo alcance lançadas da relativa segurança do espaço aéreo russo para atingir alvos na Ucrânia”.

De acordo com os militares ucranianos, as tropas russas realizaram 291 ataques com mísseis e 1.403 ataques aéreos desde o início da invasão em 24 de fevereiro.

Em uma intervenção em russo publicada na noite de sábado para domingo, Zelensky afirmou que cadáveres dos soldados russos estavam espalhados nos campos de batalha e não haviam sido recolhidos.

“Quero perguntar aos cidadãos da Rússia, o que fizeram com vocês por anos para que não percebam suas perdas?”, acrescentou, indicando que mais de 14 mil soldados russos já morreram. Já Moscou fala em 500 mortos.

A Rússia informou neste domingo a morte do subcomandante da Frota do Mar Negro russa, Andrei Palii, em combates perto de Mariupol.

– “Indiferença mata” –

Nos últimos dias, Zelensky multiplicou suas declarações por videoconferência dirigindo-se a parlamentos estrangeiros e, neste domingo, o fez perante o Knesset, o parlamento israelense.

“A Ucrânia fez sua escolha há 80 anos e temos entre nós os justos que esconderam os judeus. É hora de Israel tomar uma decisão (…), a indiferença mata”, disparou Zelensky, que é de origem judaica.

O embaixador da China nos Estados Unidos, Qin Gang, chamou neste domingo as alegações de que Pequim pode fornecer ajuda militar a Moscou de “desinformação”, em entrevista à CBS.

A Austrália, por sua vez, anunciou neste domingo um embargo às exportações para a Rússia de alumina e minério de alumínio, material estratégico em especial para a indústria armamentista.

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