26/03/2022 - 9:38
Moscou insinua relegar a segundo plano possível assalto a Kiev para priorizar região de Donbass, no leste do país. Inteligência britânica alerta que russos devem continuar bombardeios em áreas urbanas. As forças russas na Ucrânia parecem ter mudado de foco, deixando em segundo plano uma possível ofensiva terrestre contra Kiev para, em vez disso, priorizar o que Moscou chama de “libertação” da região contestada de Donbass, sugerindo uma nova fase da guerra.
Parece muito cedo para se saber se isso indica uma redução das ambições do presidente russo, Vladimir Putin, na Ucrânia, mas movimentos militares russos nesta semana indicam um reconhecimento da resistência surpreendentemente robusta dos ucranianos.
As forças de Putin estão sob grande pressão em muitas partes do país, e os Estados Unidos e outras nações estão acelerando as transferências de armas e suprimentos para a Ucrânia.
Nos últimos dias, autoridades dos EUA. disseram que veem evidências de que defensores ucranianos partiram para a ofensiva de forma limitada em algumas áreas.
O vice-chefe do Estado-Maior da Rússia, Sergei Rudskoy, informou que o exército russo teria cumprido “o objetivo principal da primeira fase” do que Moscou chama de “operação militar especial” na Ucrânia e que se concentrará em “libertar” a região de Donbass, no leste do país.
Ceticismo ucraniano
Os militares ucranianos receberam com ceticismo o anúncio russo e afirmaram que ainda acreditam que um ataque em larga escala das tropas russas a Kiev é possível.
“Para este fim, o inimigo continua a reunir grande quantidade de tropas”, disse o chefe do Estado-Maior do Exército da Ucrânia, Olexander Grusewitsch. Recentemente, as tropas ucranianas conseguiram recapturar várias posições e cidades nos arredores de Kiev.
Um relatório de inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido divulgado neste sábado (26/03) alerta que a Rússia provavelmente continuará a “usar seu poder de fogo pesado em áreas urbanas, pois procura limitar suas próprias e já consideráveis perdas”.
O texto diz que em mais de um mês de combates, as tropas russas não conseguiram capturar e manter nenhuma grande cidade ucraniana, embora vários centros importantes, incluindo Kharkiv, Chernihiv e Mariupol, permaneçam sob cerco.
O relatório de inteligência afirma que as forças russas estariam confiando principalmente no uso indiscriminado de bombardeios aéreos e de artilharia “na tentativa de desmoralizar as forças de defesa”, em vez de operações de infantaria em larga escala dentro das cidades. Essa estratégia viria “à custa de mais baixas civis”, acrescentou o documento.
“Golpes poderosos” contra os russos
Em uma mensagem de vídeo divulgada na madrugada deste sábado, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, voltou a pedir conversações ”sérias” com a Rússia. Ele afirmou que a resistência das tropas ucranianas está levando a liderança russa a “uma ideia simples e lógica: conversas é necessário”. Ele enfatizou que, nas negociações, a Ucrânia não abrirá mão de sua soberania e e integridade territorial.
Zelenski agradeceu aos ucranianos que lutam contra a invasão russa, afirmando: “Na semana passada, nossas heroicas forças armadas desferiram golpes poderosos no inimigo, perdas significativas”. Ele disse que mais de 16 mil russos foram mortos, incluindo comandantes. A Rússia diz que 1.351 de seus soldados morreram em combate.
Campanha de retirada de Mariupol
O governo francês planeja, em cooperação com as lideranças de Turquia e a Grécia, uma campanha humanitária de retirada de cidadãos de Mariupol.
O anúncio foi feito pelo presidente francês, Emmanuel Macron, após a cúpula da UE em Bruxelas. Ele afirmou que já existem conversas concretas com o prefeito da cidade e com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. Segundo Macron, também é necessário obter um acordo com a Rússia, cujas tropas estão sitiando a cidade há semanas.
A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, afirmou que neste sábado foi alcançado um acordo sobre o estabelecimento de 10 corredores humanitários para a retirada de civis dos pontos críticos da linha de frente nas cidades ucranianas.
Falando na televisão estatal, ela disse que os civis que quiserem deixar Mariupol terão que fazê-lo em veículos particulares, já que as forças russas não permitiriam que ônibus passem por seus postos de controle ao redor da cidade portuária.
Segundo o presidente Zelenski, a situação na cidade continua “absolutamente trágica”. Em uma mensagem de vídeo divulgada na madrugada deste sábado, ele acusou a Rússia de bloquear a ajuda a civis em Mariupol. Até agora foi possível retirar pouco mais de 26 mil civis da cidade.
Luta por retomada de Kherson
De acordo com um funcionário do Departamento de Defesa dos EUA, as forças ucranianas estão lutando para retomar dos russos a importante cidade de Kherson, no sul. Segundo a fonte, os militares russos não teriam mais controle sobre a cidade como antes, que é, por isso, agora considerada novamente uma “área contestada”.
Kherson é uma cidade portuária estrategicamente importante, por estar no início do delta do estuário do Dnipro. Segundo o membro da Defesa americana, se os ucranianos conseguirem recapturar a cidade, isso complicaria o ataque russo à cidade vizinha de Mykolaiv. Também tornaria uma possível ofensiva terrestre na direção da cidade portuária de Odessa significativamente mais difícil.
Mísseis atingem base ucraniana
O quartel-general da Força Aérea Ucraniana em Vinnytsia foi alvejado com vários mísseis de cruzeiro russos. Alguns dos seis foguetes disparados foram derrubados quando se aproximaram, o restante atingiu o prédio, conformea liderança da Força Aérea ucraniana, em sua página no Facebook. Houve “danos consideráveis” à infraestrutura. Nenhuma informação foi dada sobre possíveis vítimas do ataque.