Por Anthony Boadle

BRASÍLIA (Reuters) – Uma comunidade indígena armada por garimpeiros ilegais atacou uma aldeia Yanomami em sua reserva em Roraima, matando dois de seus membros e deixando cinco pessoas feridas, disse um líder indígena nesta terça-feira.

Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana, disse que o confronto entre as duas comunidades indígenas foi promovido por garimpeiros que cada vez mais invadem a reserva.

“Com o apoio dos garimpeiros que forneceram armas, a comunidade Tirei atacou outra chamada Pixanehabi”, disse Hekurari em entrevista por telefone à Reuters.

Ele disse que cinco pessoas ficaram feridas no tiroteio, incluindo um garimpeiro, e estavam esperando para serem transportadas de avião para a capital do Estado, Boa Vista.

O governo de Roraima disse que o assunto era uma questão federal por ter ocorrido no interior de uma reserva indígena. Procurada, a assessoria de imprensa da direção nacional da Polícia Federal não respondeu de imediato a um pedido de comentário. A Fundação Nacional do Índio (Funai) não tinha uma posição de imediato sobre o caso.

GARIMPO

No final do mês passado, o Ministério Público Federal (MPF) em Roraima apresentou à Justiça um pedido para obrigar a União a retomar ações de proteção e operações policiais contra o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

A iniciativa ocorreu após a visita de representantes do MPF à região conhecida como Serra das Surucucus, ocasião em que se constatou que os garimpos ilegais ocuparam toda a região, utilizando as pistas de pouso da saúde indígena como apoio logístico de dezenas de aeronaves e helicópteros.

“Isoladas do contato com a sociedade, as comunidades indígenas estão cada vez mais próximas do garimpo e não podem usufruir de seu habitat tradicional, já completamente degradado pelo desmatamento e poluição dos rios”, disse o MPF, em comunicado.

O garimpo na Terra Indígena Yanomami cresceu 46% em 2021, depois de já ter aumentado 30% no ano anterior, em um avanço desordenado que leva à criação de vilas inteiras, com direito a mercados, pousadas e internet, e traz destruição, doenças e violência para dentro da maior terra indígena do país.

Os dados são do relatório “Yanomami sob Ataque!”, preparado pela Hutukara Associação Yanomami, com apoio do Instituto Socioambiental (ISA), e que traz relatos de medo, dor e desespero dos indígenas.

(Reportagem adicional de Ricardo Brito; Edição de Pedro Fonseca)

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