28/04/2022 - 11:09
Um surto de hepatite de origem ainda desconhecida preocupa autoridades de saúde de países europeus, dos Estados Unidos e até do Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao menos 169 casos foram identificados em 12 países até o último 21 de abril.
O que chama atenção é que a hepatite, inflamação causada nas células do fígado, afeta sobretudo crianças e adolescentes até 16 anos de idade, muitas delas saudáveis. Uma criança morreu e outras 17 precisaram de transplante de fígado.
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A doença foi relatada pela primeira vez no Reino Unido, que já chegou a 114 casos confirmados: há confirmações na Espanha (13), Israel (12), EUA (9), Dinamarca (6), Irlanda (5), Holanda (4), Itália (4), Noruega (2), França (2), Romênia (1) e Bélgica (1).
No Brasil, o governo de Pernambuco emitiu alerta de observação a ocorrências suspeitas. No entanto, nenhum caso foi confirmado no País.
“Ainda não sabemos a causa dessa hepatite, nem se ela terá capacidade de causar uma pandemia, mas os serviços de vigilância epidemiológica no Brasil já estão atentos e monitorando se há algum caso no Brasil – por enquanto, não foi relatado”, diz a Lívia Boechat, hepatologista do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Origem misteriosa
A OMS especula algumas hipóteses à causa da hepatite: a primeira, e principal suspeita, é que seja causada pelo adenovírus 41, responsável por gripes e resfriados comuns e conjuntivite, faringite e até pneumonia. A segunda é que seja mais uma consequência da Covid-19, o que é pouco provável, uma vez que o coronavírus não foi detectado nas pessoas afetadas.
“O adenovírus foi detectado em pelo menos 74 crianças, portanto existe a hipótese que este vírus seja o agente causador desta hepatite aguda grave. No entanto, o que gera dúvida é que o adenovírus causa infecções autolimitadas e, embora existam relatos de casos de hepatite em crianças imunocomprometidas, o adenovírus tipo 41 não é conhecido por ser uma causa de hepatite em crianças saudáveis”, explica Fernanda Bozola, infectologista do Hospital Sírio-Libanês
A OMS relata que as crianças não testaram positivo aos vírus típicos da hepatite (A, B, C, D ou E). A hipótese de uma pandemia (número muito grande de casos que atinge diversos continentes) de hepatite, porém, é pouco provável.
“São poucos os agentes etiológicos que têm capacidade de causarem pandemias: antes do Covid, a última pandemia tinha sido a gripe espanhola, 100 anos antes. Ainda não sabemos a causa dessa hepatite, nem se ela terá capacidade de causar uma pandemia”, explica Boechat. “Embora suspeitemos sempre que a Covid possa estar envolvida em novas manifestações clínicas, não parece ser o caso: segundo a ONU, dos 20 casos (de hepatite) que positivaram para Covid, 19 estavam coinfectados com adenovírus”.
Sintomas e prevenção
Os sintomas apresentados, de acordo com Bozola, incluem sintomas gastrointestinais, como diarreia e vômitos, mas sem febre, enzimas hepáticas elevadas e icterícia (pele com coloração amarelada).
De acordo com Boechat, os meios de transmissão do adenovírus são por aerossol, água e alimentos contaminados ou por objetos de uso comum – os meios tradicionais de infecção viral. No entanto, como prevenir uma doença de origem ainda desconhecida?
“Tomando as precauções habituais, como lavar frequentemente as mãos, e mantendo as boas práticas de cuidado com o corpo: alimentando-se bem, dormindo bem, exercitando-se pelo menos 150 minutos por semana. Com as crianças não é diferente: observando esses cuidados, os pequenos devem manter suas rotinas normais de escola e brincadeiras”, diz Boechat.
“Um caso suspeito caracteriza-se por indivíduo que apresente quadro de hepatite aguda, com idade entre 0 e 16 anos. É necessário acompanhamento médico para investigação, notificação e manejo clínico”, finaliza Bozola.