29/04/2022 - 1:25
A OMS tem constantemente alertado nos últimos meses sobre o risco de “catástrofe absoluta” se o perigoso atraso na vacinação de crianças devido à pandemia de COVID-19 não for superado e se as restrições sanitárias forem levantadas muito rapidamente.
O resultado é vertiginoso: o número de casos saltou 79% nos dois primeiros meses de 2022, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a OMS e o Unicef. As duas agências da ONU agora temem o surgimento de epidemias graves de sarampo, uma doença viral altamente contagiosa, que pode afetar “milhões de crianças” em 2022.
+ Casos de sarampo saltam 79% em 2022 após Covid afetar campanhas de vacinação
Até agora, cerca de 17.338 casos de sarampo foram relatados globalmente em janeiro e fevereiro de 2022, em comparação com 9.665 nos primeiros dois meses de 2021. Mas os números provavelmente são maiores, pois a pandemia de coronavírus perturbou os sistemas de vigilância.
A melhor proteção contra o sarampo é uma cobertura vacinal muito alta.
Houve 21 epidemias significativas de sarampo nos últimos 12 meses (até abril), principalmente na África e na região do Mediterrâneo Oriental.
Os países que registaram os maiores surtos de sarampo desde o ano passado foram Somália, Iémen, Nigéria, Afeganistão e Etiópia.
Como o sarampo é altamente contagioso, os casos tendem a aparecer quando os níveis de vacinação caem. As duas agências da ONU temem que os surtos de sarampo sejam um prenúncio de epidemias de outras doenças que se espalham mais lentamente.
“Reaparecimento de doenças mortais”
“O sarampo é mais do que uma doença perigosa e potencialmente mortal. É também um dos primeiros sinais de que existem lacunas na cobertura de imunização”, ressaltou a diretora-geral do Unicef, Catherine Russell.
De acordo com a OMS e o Unicef, muitas crianças não foram vacinadas contra o sarampo devido, em particular, às perturbações nos sistemas de saúde ligados à pandemia de covid-19.
Em 2020, 23 milhões de crianças em todo o mundo não receberam as vacinas infantis básicas por meio de serviços de saúde de rotina, o número mais alto desde 2009 e 3,7 milhões a mais do que em 2019, segundo a OMS e o Unicef.
“A pandemia de covid-19 interrompeu os serviços de imunização, os sistemas de saúde ficaram sobrecarregados e agora estamos a ver um ressurgimento de doenças mortais, incluindo o sarampo. Para muitas outras doenças, o impacto dessas interrupções nos serviços de vacinação será sentido por décadas”, alertou o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
“Agora é a hora de retomar os programas de imunização e lançar campanhas de recuperação para que todos possam ter acesso a essas vacinas que salvam vidas”, pediu.
O risco de grandes surtos aumenta à medida que os países relaxam as medidas preventivas adotadas para combater a covid-19, como respeitar o distanciamento físico.
“É encorajador ver que as pessoas em muitas comunidades estão a começar a se sentir suficientemente protegidas contra a covid-19 para retomar mais atividades sociais. Mas fazê-lo em lugares onde as crianças não recebem vacinas de rotina cria as condições perfeitas para uma doença como o sarampo se espalhar”, advertiu Russell.
O deslocamento de milhões de pessoas devido a conflitos e crises na Ucrânia, Etiópia, Somália e Afeganistão, entre outros, também aumenta o risco de epidemias entre populações já muito debilitadas.