02/05/2022 - 20:05
O Federal Reserve (Fed, banco central americano) precisará resolver uma equação difícil na terça e na quarta-feira: quanto aumentar suas taxas básicas de juros para controlar a inflação sem arrastar a maior economia do mundo para a recessão?
Em março, o Fed usou de prudência para elevar as taxas de juros em 0,25 ponto percentual – a primeira alta desde 2018.
Desta vez, exceto surpresas, o Comitê de Política Monetária (FOMC) aumentará as taxas em meio ponto, elevando-as a uma faixa entre 0,75% e 1%, buscando conter a inflação.
Jerome Powell, o presidente do banco central, destacou que este aumento de meio ponto está “sobre a mesa”.
Diante de um painel de banqueiros centrais à margem das reuniões de primavera do FMI em abril, ele reforçou que é “absolutamente essencial” restabelecer a estabilidade de preços e aumentar “rapidamente” as taxas para que o Fed cumpra esta prerrogativa.
Outros integrantes do Fed foram mais explícitos ao considerar necessário desenvolver uma política agressiva diante de uma inflação persistente em um contexto de desemprego baixíssimo e escassez de mão de obra, que empurra os salários para cima.
Alguns destes encarregados esperam que também ocorram aumentos similares na reunião de junho.
A inflação, agravada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, está em seu nível mais elevado desde o começo dos anos 1980.
Chegou a 6,6% em 12 meses até março nos Estados Unidos e os preços subiram 0,9% entre fevereiro e o mês passado, segundo o índice PCE, que o Fed acompanha.
Outro indicador da inflação, o CPI, referência para o cálculo das aposentadorias, registrou um aumento de 8,5% em 12 meses até março, o maior desde dezembro de 1981.
Os dois índices são calculados a partir de grupos de bens e serviços diferentes, o que explica a disparidade de percentuais.
A perspectiva deste aumento das taxas elevou os rendimentos dos bônus do Tesouro nos Estados Unidos a dez anos a alcançarem brevemente nesta segunda 3% pela primeira vez desde o fim de 2018 para depois recuar para 2,97%.
Enquanto isso, o dólar consolidava seu reinado nesta segunda, alcançando seu nível mais alto em quase 20 anos perante as principais moedas mundiais. O Dollar Index, que compara o dólar a uma cesta de moedas, subiu 0,72% a 103,70 pontos, perto de seu máximo de dezembro de 2002.
– Na corda bamba –
As discussões serão intensas. Além das pressões inflacionárias, alimentadas também pelos confinamentos na China que acentuaram os problemas de abastecimento no mundo, o crescimento freia em todo o planeta.
As ferramentas do Fed são consideradas eficazes para moderar a demanda e, por fim, os preços.
Além da taxa de juros, o Fed deveria começar a reduzir seus ativos em bônus, outra etapa maior da normalização monetária.
O desafio do Fed é moderar a demanda sem que esta freie completamente, uma vez que o consumo é o motor principal do crescimento americano, cujo PIB encolheu 1,4% no primeiro trimestre na projeção anual (a cifra estimada em 12 meses, se mantidas as condições no momento da medição).
Para Gregory Daco, economista-chefe da EY Parthenon, este dado não fará o Fed mudar de rumo. A demanda doméstica se mantém muito forte.
“Os americanos viajam, embora as passagens estejam caras. Vão ao cinema, ao teatro, os restaurantes estão cheios”, destacou em entrevista à AFP.
Assim como muitos economistas, espera que o Fed eleve suas taxas em meio ponto na quarta-feira e em outro meio ponto em junho.
Embora uma recessão não seja considerada iminente, alguns especialistas não excluem esta possibilidade no início do próximo ano se os preços continuarem elevados apesar do aumento das taxas.
“O trabalho do Fed é extremamente complexo, não só pelas condições econômicas domésticas, que são difíceis de interpretar, bem como por um contexto de reativação econômica mundial dessincronizada”, explicou Daco.
Powell, que dará sua tradicional coletiva de imprensa na quarta-feira, será perguntado sobre quantas altas o comitê poderia anunciar durante o ano.
“Se o Fed realmente quiser conseguir uma aterrissagem suave”, em outras palavras, ajustar a política monetária sem provocar uma recessão, “deve indicar onde está a pista de pouso e quando pensa chegar lá; será um elemento-chave”, concluiu Daco.
Para os economistas do BNP Paribas, “é pouco provável que Jerome Powell forneça um número preciso” ou um objetivo de taxas na quarta-feira.