Por Lisandra Paraguassu

SÃO PAULO (Reuters) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva advertiu que não será fácil fazer mudanças na reforma trabalhista, e voltou a dizer que os partidos aliados precisam se dedicar a eleger parlamentares alinhados com suas propostas ou será muito complicado aprovar leis que atendam os trabalhadores.

A declaração foi dada nesta terça-feira durante o evento que fechou oficialmente o apoio do partido Solidariedade à candidatura do ex-presidente e foi uma resposta ao deputado Paulinho da Força, presidente do partido que, em seu discurso, pediu que Lula parasse de falar em acabar com a reforma trabalhista.

“Não é tão fácil mudar as coisas não. Você vendeu muita facilidade, que você, a Gleisi, o Marcelo Ramos vão fazer as coisas. Você sabe que não é assim, o jogo é pesado”, disse Lula, respondendo a uma afirmação de Paulinho.

Em sua fala, o deputado fez críticas a alguns momentos da campanha de Lula até agora.

“Uma vaia aqui, uma internacional ali, a revogação da reforma trabalhista. Isso só joga água contra no nosso moinho. Ganhando a eleição, eu, Gleisi, Ramos (Marcelo, deputado do PSD), em dois meses a gente resolve a questão dos trabalhadores dentro do Congresso”, disse Paulinho.

Há cerca de três semanas, em um evento de Lula com as centrais sindicais, Paulinho foi vaiado por sindicalistas das demais agremiações, reclamou que Lula não teria feito nada para ajudá-lo, e chegou a ventilar que poderia tirar o Solidariedade da aliança –na eleição passada, o partido apoiou Ciro Gomes. No entanto, uma conversa com Lula o fez voltar ao acordo.

Lula voltou a criticar o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a quem aponta como um dos responsáveis pelo orçamento secreto.

“Se a gente ganhar as eleições e o atual presidente da Câmara continuar com o poder imperial… ele já está querendo criar o semipresidencialismo, ele já quer tirar o poder do presidente para que o poder fique na Câmara dos Deputados e ele aja como se fosse o imperador do Japão”, afirmou.

A proposta de emenda constitucional defendida por Lira está em discussão na Câmara e prevê que o presidente governe com um primeiro-ministro indicado pelo Congresso, mas não pegaria um eventual novo mandato de Lula, já que valeria apenas a partir das eleições de 2026.

“Ele acha que pode mandar, inclusive administrando o orçamento, que tem que ser administrado pelo governo, que é pra isso que o governo é eleito. E é o governo que decide cumprir orçamento aprovado pela Câmara em função da realidade financeira do país”, defendeu o ex-presidente.

A margem de manobra do governo federal, no entanto, é menor desde a aprovação de duas emendas constitucionais em 2015 e 2019. Pela primeira está prevista a execução obrigatória de emendas parlamentares individuais. Antes disso, os parlamentares apenas sugeriam as dotações, cuja execução ficava a critério do governo. A segunda determinou a execução obrigatória de emendas parlamentares de bancada estadual.

Em uma plateia formada basicamente por sindicalistas da Força Sindical, o palco do evento estava tomado por líderes partidários apoiadores de Lula, mas desgarrados de seus partidos. Vieram ao ato do Solidariedade, por exemplo, o senador Omar Aziz, que foi presidente da CPI da Covid no Senado, e o deputado federal Marcelo Ramos, vice-presidente da Câmara, ambos do PSD. O senador Renan Calheiros (MDB-AL) chegou a ser anunciado, mas não veio a São Paulo, segundo disse à Reuters, porque teve de ir a Brasília tratar da eleição extemporânea no seu Estado, suspensa pelo STF.

A intenção de Paulinho é tornar o Solidariedade um centro de apoio aos lulistas espalhados por partidos que não apoiam formalmente o ex-presidente, mesmo que nenhum deles tenha a intenção de mudar de partido, para apresentar propostas à campanha presidencial.

tagreuters.com2022binary_LYNXNPEI420PA-BASEIMAGE