Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – O tempo mais seco trouxe novas quebras para a safra de milho do Brasil em 2021/22, agora com uma redução estimada em 5 milhões de toneladas na colheita de inverno do centro-sul, o que impactará proporcionalmente o volume a ser exportado pelo país, afirmou nesta segunda-feira a consultoria AgRural.

A segunda safra do centro-sul, estimada em 85,9 milhões de toneladas no mês passado, agora está projetada em 80,9 milhões de toneladas, ainda um recorde. Já a produção total na temporada 2021/22 pode atingir históricos 112,3 milhões de toneladas, graças a um aumento no plantio impulsionado por bons preços.

Mas há preocupações sobre novas reduções, uma vez que as chuvas no Centro-Oeste “cortaram” mais cedo este ano, disse o analista da AgRural Fernando Muraro, à Reuters. Ele lembrou que, de outro lado, as lavouras de Paraná e do sul de Mato Grosso do Sul estão em boas condições, o que colabora para deixar o mercado em compasso de espera, dificultando negociações.

“Na região que está em estiagem (Centro-Oeste), aconteceu o que aconteceu com o Sul (na safra de verão). Como está muito difícil calcular, e o viés é de baixa (na produção), os caras não vendem, enquanto o milho no Sul agora está uma maravilha, está excepcional no Paraná…”, disse Muraro.

Com o corte na previsão, a exportação brasileira que poderia atingir recordes de 43 milhões de toneladas agora está estimada entre 38 milhões e 40 milhões de toneladas, disse Muraro.

“O número está mais para menos de 40 milhões, uma vez que a segunda safra não vai performar tão bem. Com uma safra cheia, chegamos a imaginar uma 42 a 43”, declarou ele, destacando que o exportador tem prevalecido sobre o mercado interno, com o conflito na Ucrânia aumentando a demanda pelo cereal brasileiro.

No ano passado, quando a safra quebrou por seca e geadas severas, a exportação somou apenas 21,6 milhões de toneladas.

Muraro disse ainda que, uma vez que riscos de geadas não podem ser descartadas ainda para o milho de inverno do Paraná –apesar de um plantio mais adiantado– isso adiciona mais incerteza.

Sobre o Paraná, ele lembrou também que o importante Estado agrícola sofreu perdas expressivas na soja no último verão, mas agora produtores têm chance de recuperar com o milho.

“O melhor milho está onde tivemos a pior soja (no verão), e o pior milho é onde a soja foi excepcional”, afirmou, destacando que algumas regiões do Cerrado estão 45 dias sem chuvas.

Com a área do centro-sul praticamente estável em relação à previsão do mês passado –14 milhões de hectares, 6% acima de 2021–, o que pesou no corte de produção foram as produtividades, que caíram em todos os Estados da região, com exceção do Paraná.

“As maiores perdas de rendimento são registradas em Goiás e áreas mais tardias de Mato Grosso, mas também há redução de potencial em Minas Gerais, São Paulo e norte de Mato Grosso do Sul”, disse a consultoria.

A produtividade média da região é estimada agora pela AgRural em 96,3 sacas por hectare, contra 102,5 sacas em abril e 70,7 sacas na safrinha 2021.

A AgRural disse que fará uma nova revisão da safrinha em junho e, confirmando-se as previsões de tempo seco, novos cortes poderão ocorrer. “No Paraná e no sul de Mato Grosso do Sul, a safrinha está em excelente forma, mas ainda há risco de perdas por eventuais geadas”, alertou.

OFERTA INTERNA

Segundo Muraro, a situação do milho segunda safra agrava uma conjuntura vivenciada pelas indústrias de carnes de aves e suínos, que dependem fortemente do cereal para alimentar as criações, após uma quebra na safra de verão, no Sul do Brasil.

“Não é que vai faltar milho, mas começa a complicar de novo, o setor de carnes está muito difícil este ano, está com dificuldade de repassar os custos altos de milho e farelo de soja… A situação é tão delicada que não estão tendo capacidade para comprar milho agora, então estão deixando o mercado passar”, disse.

Para Muraro, o “mercado interno está bem abandonado”, em função da falta de capacidade de pagamento de muitas indústrias. Com isso, a saca de 60 kg de milho está ainda cotada em patamares um pouco abaixo de 90 reais, um nível historicamente elevado, mas inferior ao pico de mais de 100 reais visto no início do ano.

Em um contexto em que o mercado internacional é demandante, por conta do conflito no Leste Europeu, ele avalia que a indústria local enfrentará forte disputa com os exportadores, ainda mais se os problemas de safra se agravarem.

(Por Roberto Samora; edição de Nayara Figueiredo)

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