24/05/2022 - 11:01
Diversos países desenvolvem armamentos a laser, porém especialistas estão céticos quanto a alegações russas. Segundo uma figura de alto escalão do Kremlin, a Rússia teria utilizado um sistema armamentista a laser nos combates na Ucrânia. Em conferência transmitida na quarta-feira (18/05) pela TV estatal Piervy Kanal (1º Canal), o vice-primeiro-ministro Yury Borisov afirmou que a arma Zadira teria derrubado drones ucranianos.
De acordo com a agência de notícias Reuters, ela integraria um sistema de mísseis balísticos intercontinentais que inclui o componente laser Peresvet, o qual, segundo Borisov, já teria emprego amplo, sendo capaz de “cegar” satélites a até 1.500 metros de altura. “Se o Peresvet cega, a nova geração de armas a laser leva à destruição física dos alvos […] eles se incendeiam”, afirmou o político russo.
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No entanto, especialistas militares expressaram ceticismo de que essas alegações tenham base de verdade. Num comunicado à imprensa, na quarta-feira mesma, um alto funcionário dos Estados Unidos declarou não haver indícios para corroborar que o exército russo esteja usando esse tipo de armamento contra a Ucrânia.
Laser como “superarma”
Um feixe laser de alta energia é capaz de aquecer fortemente uma placa espessa de aço, fazendo um buraco em questão de segundos. Os raios viajam à velocidade da luz, têm um alcance muito mais amplo do que os projéteis convencionais e são extremamente precisos.
Armas a laser também operam discretamente, pois lançar raios luz não provoca ruído forte. Mais importante ainda, contudo, é serem extremamente econômicas, pois não exigem munição, exceto a energia. Segundo a organização holandesa TNO, que pesquisa tecnologia armamentista a laser, cada disparo do sistema que estão desenvolvendo custa menos de um euro.
Tais fatores tornaram armas a laser projetos atraentes para militares de todo o mundo. Em meados de 2021, as Forças Armadas americanas anunciaram ter testado numa manobra uma arma do gênero. Em abril, o primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennet, divulgou no Twitter a bem-sucedida testagem das “primeiras armas a laser do mundo” capazes de derrubar drones, mísseis e morteiros.
Diversos outros países, inclusive a França, Reino Unido e China, fizeram alegações semelhantes, e, de acordo com o porta-voz da TNO Maarten Lörtzer, é provável que a Rússia seja um dos países explorando essa tecnologia, “devido à confidencialidade desse tipo de projeto, porém, não temos conhecimento do status”.
Caso operacionais, armas a laser poderiam, de fato, ajudar Moscou contra drones, uma das principais ameaças que enfrenta em sua invasão do país vizinho. Com eles, em diversas ocasiões os militares ucranianos conseguiram detectar antecipadamente as manobras das forças de combate russas.
Além dos drones fornecidos pelos Estados da Otan, os ucranianos identificaram e atacaram alvos russos com veículos não tripulados próprios, quer de fabricação própria, quer comercial.
Afirmativas pouco fundamentadas
Na conferência da quarta-feira, Borisov alegou que Zadira já abatera um drone ucraniano a cinco quilômetros de distância, em cinco segundos. O Kremlin alega também poder empregar sua arma para “ofuscar” satélites e câmeras e detectores militares.
Lasers têm ainda a capacidade de cegar soldados permanentemente, porém essa função é proibida por uma convenção internacional de 1995 banindo as armas que causem danos ou ferimentos excessivos e indiscriminados.
Falando ao jornal The Washington Post na quinta-feira, o major-general reformado do Exército australiano Mick Ryan advertiu que não se levem demasiado a sério as assertivas da Rússia, pois o país tem um histórico de ostentar sua potência militar.
No mesmo dia, numa mensagem de vídeo publicada no Twitter, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, zombou das alegações russas, que “claramente indicam o total fracasso da invasão”, provando que o Kremlin “tem medo de admitir que se cometeram erros catastróficos nos mais altos níveis estatais e militares”.
Os líderes russos estariam buscando uma “arma milagrosa”, acrescentou o chefe de Estado com desprezo. Zelenski se referia à propaganda da Alemanha nazista sobre armamentos não existentes, assim chamados “Wunderwaffen”, como tática de guerra psicológica.