25/05/2022 - 13:48
Uma pequena cidade do Texas, perto da fronteira com o México, acordou de luto nesta quarta-feira (25) depois que um adolescente matou 19 crianças e dois professores em uma escola do ensino fundamental, no último capítulo de violência armada nos Estados Unidos.
Os detalhes do massacre – as vítimas e o suspeito de 18 anos, que foi abatido pela polícia -, são divulgados enquanto o país enfrenta o horror do tiroteio em escola mais mortal desde a tragédia de Sandy Hook, em Connecticut, há uma década.
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“Esta cidade está com o coração partido, devastada”, disse Adolfo Hernandez, cujo sobrinho estava na Robb Elementary School durante o tiroteio de terça-feira em Uvalde, uma pequena comunidade a cerca de 130 quilômetros da cidade de San Antonio.
“Coisas assim não acontecem aqui”, afirmou à AFP. “Só quero me beliscar e acordar desse pesadelo horrível”.
Aflito e irritado, o presidente Joe Biden se dirigiu à nação horas após o ataque, pedindo aos legisladores que enfrentem o poderoso lobby das armas e promulguem leis mais duras para conter a violência armada.
“Como nação, temos que nos perguntar quando, pelo amor de Deus, vamos enfrentar o lobby das armas. Quando, pelo amor de Deus, faremos o que todos sabemos que precisa ser feito?” disse Biden, emocionado.
Nesta quarta-feira, a polícia isolou a área em torno da escola e havia pouco tráfego ou movimento de pedestres. O bairro é formado por modestas casas de apenas um andar e pequenos pátios. Balanços e churrasqueiras ao ar livre são vistos em muitos jardins.
Identificado como Salvador Ramos, o autor do massacre era morador de Uvalde e cidadão americano.
Autoridades do Departamento de Segurança Pública do Texas informaram que o jovem armado atirou contra sua avó antes de seguir para escola do ensino fundamental por volta do meio-dia, onde abandonou seu veículo e entrou com uma pistola, um rifle e com um colete à prova de balas.
– Bullying –
Ramos, que gaguejava, sofreu ‘bullying’ na escola por seus problemas de fala e uma vez cortou o rosto “só por diversão”, disse Santos Valdez, que o conhecia na época, ao The Washington Post.
Valdez contou que era amigo de Ramos, mas que o vínculo terminou quando o jovem começou a “se deteriorar”.
Ramos matou as 21 pessoas em uma sala de aula, informaram a CNN e outros meios de comunicação.
Com as mensagens de familiares devastados pelas perdas, começaram a ser conhecidos os nomes de algumas das crianças assassinadas, a maioria de origem latina: Ellie García, Jayce Carmelo Luevanos, Uziyah.
“Meu amorzinho agora voa alto com os anjos lá em cima”, publicou no Facebook Ángel Garza, cuja filha Amerie Jo Garza tinha acabado de comemorar seu décimo aniversário.
“Te amo, Amerie Jo”, escreveu. “Nunca voltarei a ser feliz ou completo”.
Mais de 10 crianças ficaram feridas no ataque contra a escola, que tem mais de 500 estudantes, quase 90% deles hispânicos de famílias com recursos econômicos modestos.
– “Sentiremos sua falta” –
Os policiais abateram o atirador, afirmaram as autoridades. Mais tarde, confirmaram que dois professorem também foram assassinados no ataque.
Eva Mireles, uma professora do quarto ano, foi morta a tiros enquanto tentava proteger seus alunos, disse sua tia Lydia Martínez Delgado ao The New York Times. Contou que Mireles tinha orgulho de ensinar crianças de descendência latina.
Uma prima de Mireles, Ambar Ybarra, a chamou de heroína. “Era uma cozinheira incrível. Sua risada era contagiante e sentiremos sua falta”, declarou Ybarra ao programa “Today” da NBC. “Botava seu coração em tudo que fazia”.
Em 2022, houve nos Estados Unidos mais tiroteios em massa – nos quais quatro ou mais pessoas ficaram feridas ou mortas – do que dias do ano até agora, segundo a ONG Gun Violence Archive, que registrou 213 desses incidentes.
O tiroteio de Uvalde foi o mais mortal desde o ataque em Sandy Hook, em 2012, quando morreram 20 crianças e seis adultos.
– ‘Em nenhum outro lugar’ –
“Isso não é inevitável, essas crianças não tiveram má sorte. Isso só acontece neste país e em nenhum outro lugar”.
Este mês houve outros ataques a tiros nos Estados Unidos: o mais recente em 14 de maio, quando um autoproclamado supremacista branco de 18 anos matou a tiros dez pessoas em uma loja de comestíveis em Buffalo, Nova York.
Apesar dos ataques a tiros em massa recorrentes e de uma onda nacional de violência armada, múltiplas iniciativas para reformar as regulações sobre armas fracassaram no Congresso nos Estados Unidos, deixando aos legislativos estaduais e locais promulgarem suas próprias restrições.