01/06/2022 - 17:52
O Ibovespa iniciou junho praticamente sem variação (+0,01%), tendo chegado a mostrar ganhos um pouco melhores ao longo da tarde enquanto Nova York moderava perdas. Ao fim, a referência da B3 mostrava 111.359,94 pontos, quase no mesmo ponto em que encerrou maio, entre mínima de 110.821,51 e máxima de 111.930,89, saindo de abertura a 111.350,51 pontos na sessão. O giro ficou em 25,6 bilhões nesta quarta-feira, e, no ano, o Ibovespa avança 6,24%, tendo retomado em maio a trajetória ascendente que havia prevalecido entre dezembro e março, revertida em abril.
Nesta quarta, a forte leitura dos índices de atividade PMI, nos Estados Unidos como também no Brasil, suscitou reação ambivalente dos mercados, observa Flávio Aragão, sócio da 051 Capital. “A cada leitura melhor dos índices de atividade vem a dúvida sobre o efeito em inflação e no ritmo de ajuste das políticas monetárias. Há uns 15 dias a liquidez vem se mostrando mais restrita, com os investidores em compasso de espera para as próximas decisões sobre juros, no momento em que o calendário eleitoral começa a ganhar atenção do mercado”, diz.
Ele destaca a “lateralização” do Ibovespa observada nas últimas sessões, com o índice sem força para seguir muito adiante mesmo nos dias em que poderia ser mais favorecido pelo avanço dos preços das commodities. Nesta quarta, tanto o Brent como o WTI voltaram a subir, assim como o minério de ferro em Dalian (+1,12%, a US$ 131,95 por tonelada), o que colocou Vale ON (+2,35%) e parte das siderúrgicas (CSN ON +1,56%) no campo positivo, em contraponto ao recuo nas ações de grandes bancos, com Santander (Unit -1,94%) e Bradesco PN (-1,80%) à frente – a exceção foi BB ON (+0,19%). Por sua vez, Petrobras (ON -0,09%, PN -0,13%) voltou a decepcionar após ter esboçado ganhos moderados, devolvidos em direção ao fim da sessão.
O temor de mudanças na atual política de preços da empresa, que leva em conta o câmbio e as cotações da commodity, levou o Morgan Stanley a retirar Petrobras da lista de dez principais ações recomendadas para junho na América Latina. Em relatório, o BTG Pactual estima que intervenções levariam a perdas entre US$ 6 bilhões e US$ 7,5 bilhões de Ebtida da estatal a cada 10% de defasagem ante os preços internacionais.
Se o presidente Jair Bolsonaro – apesar das reiteradas críticas à política de preços da estatal, com sucessivas trocas de comando desde o início do mandato – parece não ter conseguido até o momento ser decisivo na orientação da Petrobras, “Lula é explícito quanto ao que vai fazer, o que afeta também os preços (das ações) de outras estatais”, observa Aragão, da 051 Capital.
Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para Hypera (+7,66%), WEG (+3,31%) e Usiminas (+2,74%). No lado oposto, Azul (-5,82%), Banco Inter (-4,69%) e Gol (-3,86%).
“O dia foi negativo no mercado internacional, com os investidores ainda pesando o cenário inflacionário. Essa persistência do petróleo acima dos US$ 120 (por barril)está sendo avaliada pelos analistas em meio à retomada econômica na China – inclusive com medidas de sustentação da atividade -, em conjunto com a decisão da União Europeia de banir o petróleo russo. A incerteza quanto à Opep, sobre o nível de oferta da commodity, coloca combustível nas preocupações sobre a inflação, assim como estimativas mais fortes para a inflação em áreas como a zona do euro”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
De acordo com relato da Argus, a Opep+ está prestes a concordar com outro aumento em sua meta de produção de petróleo quando os ministros se reunirem em 2 de junho. A coalizão deve carimbar aumento de 432.000 b/d em sua meta de julho, conforme acordo com roteiro esboçado no ano passado, disseram delegados. Segundo a Reuters, a reunião técnica da Opep+ nesta quarta-feira não discutiu a suspensão da Rússia de um acordo de fornecimento de petróleo, disseram quatro fontes, na véspera do encontro em que deve ser confirmado plano para elevar a produção.
No quadro mais amplo, “embora o Brasil tenha chamado atenção com maio de boa rentabilidade, a grande protagonista continua a ser a inflação. Com a sequência de aumentos da inflação ao redor do mundo, os principais BCs têm indicado preocupação com o tema, com aumentos de juros”, aponta Antônio Sanches, analista da Rico Investimentos.
A presidente da distrital do Federal Reserve em São Francisco, Mary Daly, defendeu nesta quata que a autoridade monetária eleve juros mais rapidamente em direção ao nível neutro, o patamar em que as taxas nem estimulam, nem comprimem a atividade econômica. Em entrevista à CNBC, a dirigente estimou que esse nível está em 2,5%. Atualmente, a taxa de juros de referência do Fed está na faixa entre 0,75% e 1,00%.
“Maio foi bom para a Bolsa brasileira, com alta de 6% no ano, recuperando um pouco o call do ‘Brazil bull’. Os primeiros 15 dias do mês passado foram muito ruins para as bolsas americanas, que mostraram recuperação nos últimos 10 dias de maio, com melhora de dois de três pilares que estavam atrapalhando o cenário de risco: reabertura de China, com o alívio dos lockdowns, o que contribui para os preços de commodities; e más notícias (sobre a economia) que viraram boas notícias, com visão sobre juros que chegou a ficar um pouco mais branda por lá”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, destacando o efeito sobre o câmbio no Brasil, com recente recuo do dólar para baixo do limiar de R$ 4,80.
Nesta quarta, a moeda norte-americana encerrou o dia a R$ 4,8041, em alta de 1,08%, tendo sido negociada a R$ 4,7225 na mínima do dia, após ter chegado a ficar abaixo de R$ 4,70 na terça, durante aquela sessão.