O Banco Central Europeu (BCE) tentava retomar o controle nesta quarta-feira (15) face ao aumento da dívida soberana de alguns países da zona do euro, em uma tentativa de afastar o espectro de uma crise da dívida mantendo, ao mesmo tempo, o combate à inflação.

Uma semana após o anúncio de um aperto de sua política monetária, o BCE se reuniu em caráter de emergência nesta quarta-feira.

O objetivo era convencer os mercados de que o seu programa de aumento das taxas de juros é compatível com a luta contra uma diferença excessiva nos custos de endividamento entre os países do norte e do sul da zona do euro.

Após a reunião, o conselho de governo se comprometeu a adotar duas medidas: “aplicar uma certa flexibilidade no reinvestimento” dos títulos do seu programa de emergência lançado durante a pandemia (chamado PEPP) e desenhar um novo instrumento “antifragmentação” para combater a divergência das taxas de juro na zona do euro.

No momento, o BCE não deu detalhes sobre o futuro instrumento contra a fragmentação, nem sobre seu calendário.

A turbulência no mercado da dívida soberana começou quando o BCE anunciou há uma semana o fim da era do dinheiro abundante e barato.

Seguindo os demais grandes bancos centrais, a instituição de Frankfurt anunciou, pela primeira vez desde 2011, um ciclo de elevação de suas principais taxas para combater a inflação.

Na sua próxima reunião, em 21 de julho, o BCE irá aumentar suas taxas de referência em 25 pontos-base, depois de ter travado suas compras líquidas de ativos.

Sua presidente, Christine Lagarde, também alertou que a partir de setembro haverá uma nova série de altas de juros, cujo valor preocupa os investidores.

Esta mudança de rumo na política monetária é acompanhada pelo risco de fragmentação do mercado de dívida soberana na zona do euro, o que levaria os Estados europeus a se endividarem em níveis muito diferentes, penalizando aqueles considerados mais frágeis.

O objetivo é evitar uma nova crise da dívida soberana, dez anos depois daquela que quase quebrou a unidade da zona do euro.

Após o anúncio da decisão do BCE, a reação do mercado da dívida foi imediata e os spreads entre Itália, Grécia, Espanha e Portugal continuavam a aumentar face à taxa alemã a 10 anos, o Bund, que é a referência.

Nas últimas semanas, os dirigentes do BCE disseram estar prontos para intervir com urgência, inclusive criando um novo instrumento monetário. Muitos observadores criticam, no entanto, a falta de uma solução concreta.

“Não vamos tolerar mudanças nas condições de financiamento que vão além dos fatores fundamentais” dos países da zona do euro, disse Isabel Schnabel, membro do conselho executivo do BCE, em um evento em Paris na terça-feira (14).

A reunião desta quarta “não anunciou uma ferramenta integral de combate aos spreads que forneça uma solução permanente para o problema”, comentou Jack Allen-Reynolds, da Capital Economics.