16/06/2022 - 18:31
Ex-motorista de caminhão que ficou tetraplégico após acidente foi a primeira pessoa a ter permissão para o suicídio assistido no país. Perder sua independência havia o deixado como um “barco à deriva no oceano”, disse. Um homem de 44 anos morreu por suicídio medicamente assistido na Itália nesta quinta-feira (16/06), no primeiro caso do tipo no país.
Embora seja tecnicamente contra a lei ajudar alguém a tirar a sua própria vida na Itália, o Tribunal Constitucional do país decidiu em 2019 que poderia haver algumas exceções, embora sob condições estritas.
O homem, identificado após sua morte como Federico Carboni, faleceu depois de tomar por conta própria um coquetel letal de drogas por meio de uma máquina especial. Sua família e amigos estavam ao seu lado quando ele faleceu.
A morte de Carboni foi anunciada pela Associação Luca Coscioni, um grupo de apoio à eutanásia que o ajudou a defender seu caso junto aos tribunais e autoridades sanitárias.
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Ele era motorista de caminhão e ficou paralisado do pescoço para baixo há dez anos, após um acidente de trânsito.
“Não nego que eu lamento dizer adeus à vida”, ele disse antes de sua morte, segundo a Associação Luca Coscioni. “Fiz todo o possível para viver o melhor que pude e tentei aproveitar ao máximo apesar da minha deficiência, mas agora estou no meu limite, tanto mental quanto fisicamente”, disse Carboni.
Como tetraplégico, ele precisava de cuidados 24 horas por dia, o que o fazia depender sempre de apoio e o deixava sem independência, disse, o que o fazia se sentir como um “barco à deriva no oceano”. “Agora estou finalmente livre para voar para onde quiser”, disse.
Longa batalha legal
Em 2019, o Tribunal Constitucional da Itália permitiu o suicídio assistido em alguns casos. A questão havia enfrentado a oposição acirrada da Igreja Católica e dos partidos conservadores.
O tribunal delineou certos requisitos que devem ser cumpridos para que se possa solicitar o suicídio assistido. Por exemplo, deve estar claro que um paciente não pode ser curado, que ele depende de meios que sustentam a sua vida e que ele está experimentando dor física e mental “intolerável”.
Um paciente também deve ser plenamente capaz de tomar suas próprias decisões e compreender as conseqüências.
Carboni recebeu permissão de um comitê de ética em novembro passado, após recorrer contra a recusa inicial das autoridades de saúde e levar seu caso ao tribunal. Ele foi a primeira pessoa no país a obter essa aprovação legal.
Ele então precisou levantar 5 mil euros (R$ 27 mil) para cobrir os custos com medicamentos e equipamentos especiais necessários para colocar um fim em sua vida. A Associação Luca Coscioni lançou uma iniciativa de financiamento coletivo para arrecadar dinheiro para tanto.
“Continuaremos a lutar para que obstrucionismos semelhantes e violações da vontade dos doentes não se repitam”, disse a associação em uma declaração.
O suicídio assistido é permitido na Suíça há décadas. A prática também é legal em vários outros países, incluindo a Holanda, Áustria e Espanha.
bl (AP, AFP, dpa)