29/06/2022 - 14:38
Mais de 1.100 peças de bronze do antigo reino africano de Benim retornarão à África. Planejadas ações de restituição também para outras ex-colônias. Até 1ª Guerra, Alemanha foi 3ª maior potência colonialista. O governo alemão chegou a um acordo com o da Nigériapara a devolução de cerca de 1.130 esculturas e placas de metal. Os assim chamados “Bronzes de Benim” decoravam o palácio do reino homônimo, no que é hoje o sudoeste nigeriano, e foram pilhados durante a época colonial.
A maior parte das elaboradas peças de bronze que se encontram na Alemanha foi levada pelas tropas britânicas ao conquistarem, saquearem e incendiarem a cidade de Benim em 1897. Eles serão restituídos depois de as ministras do Exterior, Annalena Baerbock, e de Cultura, Claudia Roth, assinarem um memorando de entendimento com seus homólogos nigerianos, na sexta-feira (30/06).
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“A devolução dos Bronzes de Benim sedimenta nosso comprometimento em encarar nossa história colonialista”, declarou Roth em comunicado. “Ela deve ser o começo de uma nova cooperação cultural, diferente.”
Duas das peças de valor incalculável serão entregues diretamente à Nigéria após a assinatura do memorando. Em fevereiro, a França também restituiu ao país africano 26 bronzes pilhados do antigo reino de Daomé, no sul do atual Benim, por forças coloniais francesas, em 1892.
Novo capítulo no processamento do colonialismo
Por muitas décadas, os museus e líderes políticos da Alemanha – que até a Primeira Guerra Mundial foi a terceira maior potência colonialista, depois do Reino Unido e da França – vinham evitando negociações para acordos concretos de transferência ou mesmo restituição dos bronzes.
Em 2021, porém, representantes dos governos alemão e nigeriano anunciaram a decisão de transferir a propriedade dos artefatos. Eles estão espalhados em cerca de 20 museus alemães. Até agora, cinco instituições que possuem as coleções mais extensas estão envolvidas na transferência de propriedade.
Uma delas é o Museu Linden, de Stuttgart. “Estou muito confiante de que agora obteremos restituições abrangentes, em especial do Museu Linden”, declarou na terça-feira Theresia Bauer, secretária de Arte, Ciência e Educação do estado de Baden-Württemberg.
Assim que a carta de intenção para a transferência de propriedade estiver assinada, poderá começar a organização do traslado para os museus na África. “Vamos nos encontrar com os diversos museus e discutir os aspectos técnicos do retorno físico desses objetos, assim como outros aspectos da cooperação”, explicou à DW Abba Isa Tijani, diretor da Autoridade dos Museus e Monumentos nigerianos.
Deusa-mãe Ngonnso deve voltar aos Camarões
No contexto do engajamento crescente para devolver artefatos saqueados na era colonial, na segunda-feira a Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano anunciou que uma estátua feminina conhecida como Ngonnso será restituída ao reino de Nso, no noroeste dos Camarões.
Ela foi levada embora pelo oficial colonial Kurt von Pavel, que a doou ao Museu Etnológico de Berlim em 1903. Há anos a iniciativa da sociedade civil Bring Back Ngonnso realizava uma campanha para que a figura voltasse a seu lugar de origem, pois o povo Nso afirma vir sofrendo infortúnio desde que ela foi roubada.
“A Ngonnso tem um papel central para os Nso, pois é considerada uma divindade-mãe”, informou a fundação alemã em comunicado, acrescentando que a estátua não foi removida por pilhagem de Kumbo, capital de Nso, mas Pavel teria intimidado o povo local com soldados armados.
À agência de notícias Reuters, Mbinglo Gilles Yumo Nyuydzewira, príncipe do reino Nso, louvou a decisão de restituição: “Depois de mais de 120 anos, só podemos estar felizes, pois este é o momento de comemorar e de estar mais próximos de nossos laços ancestrais, com amor e afeição.”
A Fundação do Patrimônio Prussiano também anunciou a devolução à Namíbia de 23 peças e planeja um acordo de repatriação com a Tanzânia. Segundo o presidente da instituição, Hermann Parzinger, objetos que não foram necessariamente pilhados também devem ser restituídos: “O significado especial – sobretudo espiritual – de um objeto para a sociedade de origem também pode justificar uma devolução.”