Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – Favorito em todas as pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sacramenta nesta quinta-feira sua sexta candidatura à Presidência do Brasil concentrando em suas mãos, como nunca antes, as rédeas da campanha. Seja na articulação política ou na economia, Lula deixa claro que só há um porta-voz, ele mesmo.

“Está sim tudo muito concentrado nele. Ele dá a última palavra”, disse à Reuters um dos petistas mais próximos do ex-presidente. “Ele conversa com muitos, mas ninguém tem a influência do grupo que atuou em outras campanhas.”

Nas campanhas vitoriosas de 2002 e 2006, o petista se movia assessorado por nomes fortes do PT, além de se guiar nas ações públicas pela batuta de marqueteiros-estrela como Duda Mendonça e João Santana. Pouco disso resiste agora.

É de Lula, e só dele, que saiu, por exemplo, a decisão de não participar da convenção do partido que irá oficializar sua candidatura em um evento em São Paulo nesta quinta-feira. Entre ter de adiar uma viagem a Pernambuco, em que vai fazer vários eventos de rua, e mais um encontro interno –e quase burocrático, já que sua candidatura foi de fato lançada em junho–, optou pela rua.

Apesar das tentativas de alguns petistas –inclusive a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, hoje uma das pessoas mais próximas a ele– de convencer Lula da importância da convenção, prevaleceu a visão do ex-presidente.

“O que ele disse foi que chega de falar para dentro, está na hora de ir para rua”, contou uma outra fonte que acompanhou a decisão. Apesar do favoritismo, Lula tem se mostrado empenhado em engrenar a campanha num momento em que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) tenta reagir nas pesquisas aprovando a toque de caixa a ampliação de programas sociais e a criação de benesses para setores afetados pela alta da inflação e dos combustíveis.

Hoje, Gleisi Hoffmann é o braço direito de Lula. É ela quem toca as conversas iniciais sobre alianças e acordos políticos e quem coordena o conselho da campanha. Mas, como demonstra a romaria de políticos na agenda de Lula, é o ex-presidente que dá a palavra final sobre qualquer acordo, é a ele que cabe definir os detalhes e dar a benção de seu apoio a candidatos ansiosos por tê-lo em seu palanque.

“Ele é a palavra que garante, é com ele que todos querem falar”, contou um líder aliado que foi até Lula na semana passada para assegurar o apoio a sua candidatura.

O que Lula repete, não apenas em discursos, mas internamente, é que em sua sexta campanha eleitoral, não pode errar. Nem em um novo governo, e nem na eleição. E vê uma aliança política o mais ampla possível como essencial.

Neste esforço rumo ao centro político, exibe como cartão de visitas seu vice, Geraldo Alckmin. Um dos fundadores do PSDB, o ex-governador de São Paulo e seu ex-rival pela Presidência em 2006 migrou para o PSB para compor a chapa, num símbolo do efeito devastador do bolsonarismo sobre as chances eleitorais da direita tradicional. Pela primeira vez desde a redemocratização, o PSDB não terá candidato próprio.

ESQUADRA ESPECIALIZADA

A centralização nas mãos de Lula, reclamam alguns, atrasa decisões e enrola aspectos burocráticos que poderiam ser decididos mais facilmente e, por vezes, levam a disputas internas.

Também levaram a posições avaliadas como erros, como quando o petista, apesar de ressalvar que era pessoalmente contra o aborto, defendeu a prática como uma questão de saúde pública, entregando a Jair Bolsonaro uma arma na briga pelo voto. Uma questão, avaliou uma fonte, que deveria ter sido mais conversada internamente para que se decidisse como tratar antes de ser anunciada em entrevistas.

“Mas o fato é que a pessoa com o passar do tempo tende a ficar mais centralizadora porque tem mais certezas”, disse uma fonte. “Ele conversa muito, ouve bastante gente, mas não se influencia. Às vezes têm que juntar Gleisi, Aloizio (Mercadante), vários para convencer ele de alguma coisa.”

Em sua primeira campanha vitoriosa, em 2002, o núcleo duro do poder petista incluía José Dirceu –depois ministro da Casa Civil–, Antonio Palocci, que veio a ser ministro da Fazenda, Luiz Gushken, Secretário de Comunicação também no primeiro mandato. Presos e condenados por corrupção, Dirceu e Palocci se afastaram do PT, e Gushken morreu em 2013.

Hoje, além de Gleisi, Lula tem entre seus mais próximos auxiliares o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, os senadores Humberto Costa (PE) e Jaques Wagner (BA), os ex-governadores Camilo Santana (CE), Wellington Dias (PI)–todos eles petistas– e Flavio Dino (MA), do PSB– nomes que possivelmente farão parte de um eventual novo governo Lula. O ex-chanceler Celso Amorim o acompanha em viagens internacionais e é seu interlocutor para política externa.

“É quem ele ouve, consulta, analisa para depois tomar uma decisão”, conta uma outra fonte que acompanha o novo núcleo da campanha.

No entanto, não é que Lula ouça menos, dizem seus auxiliares. Ao contrário, ouve mais, cada vez mais pessoas, sobre assuntos diferentes, em um espectro que inclui desde aliados antigos, como gente que conheceu recentemente e trouxe para perto.

É o caso, por exemplo, do jovem economista Gabriel Galípolo, ex-presidente do banco Fator, a quem mandou buscar para conversar ainda em 2021. É de Galípolo –e Haddad– a ideia de uma moeda única para a América do Sul, já citada por Lula em um de seus discursos.

Também entram na lista o senador Jean Paul Prates, considerado especialista em energia, e a própria esposa de Lula, Rosângela –a Janja– que tem feito a ponte do ex-presidente com o setor cultural.

Depois de ter sido condenado por corrupção, preso e ver suas condenações anuladas, Lula também mantém ao seu lado amigos de longa data, como Luiz Dulci, que voltou a cuidar de seus discursos, e Gilberto Carvalho, chamado para cuidar da agenda de eventos da campanha. Carvalho é a ponte com o marqueteiro Sidônio Pereira.

Mas, mais do que nunca, o Lula de 2022 é, como ele mesmo diz, o porta-voz de si mesmo.

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